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08/07/2015

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (31) – O mito da deflação (VI)

Outras marteladas.

Um dos incréus sobre as virtudes do alívio quantitativo adoptado pelo BCE tem sido Daniel Gros do Centre for European Policy Studies (CEPS). Num artigo publicado no Negócios, com o sugestivo título «Um placebo chamado QE», Daniel Gros põe o foco num aspecto raramente tratado: a avaliação do impacto do alívio quantitativo e da sua eficácia para obter os efeitos que o BCE diz pretender com a sua adopção, isto é o combate à deflação – uma espécie de inimigo imaginário muito conveniente para escamotear os reais problemas. Aqui vai um excerto com a sugestão de leitura completa.

«Em termos concretos, o BCE está a medir o sucesso da sua política actual de acordo com a taxa de inflação esperada em 2020-2025. Este valor, calculado a partir dos preços dos diferentes tipos de títulos, indexados e não indexados, a cinco e dez anos, baseia-se no pressuposto um tanto heróico de que todos os mercados para esses títulos funcionam de forma eficiente.

Isto representa uma contradição fundamental. É suposto que o QE funcione através de "efeitos de equilíbrio de portefólio", o que implica que os mercados não são totalmente eficientes: as compras de títulos de longo prazo afectam as condições financeiras, alterando os tipos e a quantidade de activos financeiros que o público detém. Como é que se pode usar os preços de mercado como um indicador de inflação num futuro distante e, simultaneamente, justificar o QE, alegando que a maioria dos investidores se limita a certas classes de cativos e, portanto, não segue os sinais de mercado de forma eficiente?

Outro problema com o uso da taxa de inflação esperada a cinco anos, dentro de cinco anos, para avaliar a eficácia do QE é que a taxa está correlacionada com os preços do petróleo. Na verdade, quando os preços do petróleo diminuíram no ano passado, as expectativas de inflação também caíram (medidas, contudo, de forma imperfeita). E o anúncio do QE por parte do BCE coincidiu com o início da recuperação dos preços do petróleo, pelo que se poderia esperar um aumento das expectativas de inflação.

Com tais coincidências e contradições provenientes de quase todos os aspectos do debate em torno do QE, parece que avaliar a eficácia da política é mais uma arte do que uma ciência. Infelizmente, isso deixa muito espaço para distorções e preconceitos.
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