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27/03/2013

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Cada povo tem o governo que pode (ou merece?)

«Já o PS assume-se naturalmente como o partido do poder em Portugal. É assim que se sente e é assim que se apresenta. Esta relação do PS com o poder é um extraordinário trunfo quando é governo e em boa verdade é também um factor de tranquilidade para o País pois mesmo que a CGTP peça a demissão de um qualquer ministro a ninguém de bom senso ocorrerá pôr em causa a legitimidade quer do ministro visado quer do Governo no seu todo. A isto acresce que em países como Portugal, França e Espanha o socialismo passou de ideologia a ‘password' que pode validar uma coisa e o seu contrário. Nesse sentido, o PS é o partido ideal para reformar o Estado pois aquilo que num ministro do PSD é um sinal de insensibilidade social num ministro do PS é um gesto de coragem em defesa do Estado Social: foi preciso uma ministra da ala esquerda do PS, Ana Jorge, para que por uma vez se dissesse o óbvio sobre as crianças com fome nas escolas sem que meio País não desmaiasse com o choque: "Apelo às crianças e famílias que aproveitem a necessidade de contenção para fazerem sopa em casa, por forma a não gastarem em ‘fast-food' que, para além de fazer mal, é mais caro".


A bem do nosso sossego, da razoabilidade do País e para especial gosto de muitos barões do PSD, o ideal seria que o PS fosse invariavelmente governo não se desse a circunstância de boa parte do PS considerar que esta indiscutível superioridade política do partido implica uma superioridade face à lei e sobretudo face à moral. Casos como o fax de Macau, a reacção ao escândalo Casa Pia que terminou naquela inenarrável recepção a Paulo Pedroso na Assembleia da República, o Freeport ou a tentativa de silenciamento da TVI poderiam acontecer com o PSD

[Helena Matos no Económico]

A história do pós 25 de Abril, confirma substancialmente a conclusão de HM de que «o PS é o partido ideal para reformar o Estado». Contudo, os dois episódios anteriores de intervenção do FMI, em especial o segundo, em que Mário Soares engavetou o socialismo (alguém imagina Passos Coelho a dizer isto?), também mostram que é preciso reunir três condições: a falta de dinheiro, uma intervenção externa com soberania limitada que imponha baias ao PS e, não menos importante, uma liderança forte que contenha os ímpetos dos novos situacionistas.

Por princípio, não defendo governos entregues ao partido estatizante e clientelar mais responsável pela falência do país. Apenas constato as condicionantes resultantes de uma cultura dominante e persistente, enraizada na história portuguesa e dificilmente modificável em menos do que umas quantas gerações – salvo talvez em condições socialmente catastróficas.

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