Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

04/08/2019

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (62) O clube dos incréus reforçou-se (XIX)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

Por razões fáceis de entender, estas políticas continuam a merecer a reverência, sobretudo em países como o nosso em que o Estado vive directa e sobretudo indirectamente, pela indução de confiança nos mercados, a expensas do BCE. Proliferam assim as luminárias que vêem a União Europeia e as miríficas políticas de mutualização da dívida como o alfa e ómega da salvação sem esforço das finanças arruinadas da pátria.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

É por estas razões que venho relevar o artigo «O pesadelo das taxas de juro negativas» publicado há dias no Eco, de José Maria Brandão de Brito. Não sendo a priori, como Chief Economist do BCP, um exemplo de independência porque os bancos são penalizados por estas políticas do BCE, o certo é que o artigo toca todos os pontos que prejudicam a médio-longo prazo a economia como um todo, como tenho vindo a salientar nesta série de posts.

Aqui vai a conclusão de Brandão de Brito:

«Taxas de juro muito baixas ou negativas são um doce sonho que – impercetível mas inevitavelmente – se vai transformando num amargo pesadelo. Os agentes económicos ficam excessivamente endividados. O tecido empresarial transforma-se num recreio de zombies e a produtividade da economia colapsa. A capacidade de criação de prosperidade reduz-se. Os mercados financeiros geram ganhos para uma seleta minoria, mas à custa do aumento da instabilidade do sistema económico, cujas crises sempre afetam com maior acutilância os mais frágeis. Como tudo isto não bastasse, a desigualdade aumenta e, com ela, aumenta o extremismo político.»

03/08/2019

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (25) - P'ra mentira ser segura... (II)

Outras botas para descalçar

Quando em Fevereiro o governo anunciou 104 milhões de euros (três quartos dos quais destinados à área metropolitana de Lisboa) para permitir reduzir o preço dos passes sociais, justificou que daí resultariam mais 100 mil pessoas por ano nos transportes públicos, mais 63 milhões de viagens e menos 72 mil toneladas de dióxido de carbono, escrevi aqui que se tratava de mais um exercício de planeamento milagroso porque as famílias com menores rendimentos já então privilegiavam o transporte público e tinham um passe social.

Fonte
Passados seis meses e com a medida em Lisboa em vigor desde Maio, vejamos os seus efeitos tomando como exemplo a Carris. Como se pode ver no diagrama, os aumentos homólogos até Abril, ainda com os passes ao preço antigo, situaram-se na faixa dos 6-8%. Se é certo que em Maio se verificou um aumento maior, possivelmente devido ao efeito da novidade, no mês seguinte o aumento homólogo desceu para menos de 4%. De onde, temos de concluir que, descontado o crescimento natural e salvo um aumento extraordinário nos meses seguintes, o efeito líquido da redução do preços dos passes está muito longe dos prognósticos do governo que se situam no domínio habitual do planeamento milagroso.

02/08/2019

E quando se pensava que já tinha sido atingido o supremo descaramento, Costa volta a superar-se (mais uma vez)

Uma espécie de sequela daqui.

Não vou contar as estórias das golas inflamáveis, dezenas de vezes contadas nos últimos dias, da dúzia de familiares socialistas envolvidos, da alteração à medida da lei das incompatibilidades, da tentativa de Costa exportar a questão para a PGR, nem mesmo a estória com mais de 20 anos desenterrada pelo Observador da apresentação pelo mesmíssimo Costa, então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, de uma proposta de lei do Governo de alteração do regime de incompatibilidades com as mesmíssimas regras que o mesmíssimo Costa agora questiona.

Vou apenas registar o padrão comportamental socialista que consiste em confundir a lei com a ética, a que chamam republicana, confusão estribada na superioridade moral que se atribuem, como a esquerda em geral, mas, temos de reconhecer, com maior arrogância, como se fossem proprietários do regime.

01/08/2019

Lost in translation (325) - Aeroporto de Beja? Perdido por cem, perdido por mil, queria o Dr. Lopes significar

Com a sua habitual dificuldade de entender as questões económicas, isto é as questões relacionadas com a utilização de recursos escassos, o Dr. Santana Lopes e o Aliança, a sua criação tardia para salvar da extinção a sua carreira politica, defendem  «que o aproveitamento do aeroporto de Beja “é uma questão de vontade política”, considerando que “só um país muito rico é que se daria ao luxo” de o “desperdiçar”» (Eco).

Não vou recapitular outra vez a estória do Aeroporto de Beja e remeto para os links do último post sobre o aeroporto que só abria, abre ou abrirá aos domingos, de onde se conclui que ao contrário do raciocínio do Dr. Lopes suportado pelo efeito Lockheed TriStar só um país muito rico é que se daria ao luxo de o aproveitar.

O eleitorado prefere o socialismo do PS à imitação do PS-D de Rio e do CD-S de Cristas - a confirmação

TVI
Pela mão de Rio e Cristas, a direita deixou (a curto prazo?) de existir como alternativa viável de poder.

31/07/2019

ACREDITE SE QUISER: O programa de governo secreto ou o centralismo não democrático de Rio

«Rui Rio apresentou, na madrugada desta quarta-feira, “Uma Visão para Portugal”, com as linhas gerais do seu programa eleitoral às legislativas. Noite dentro, o Conselho Nacional aprovou as mais da 100 páginas de propostas, entregues na hora para evitar fugas de informação, queixando-se os críticos que não passaram do índice.» (Expresso)

Ocorre-me o que Vasco Pulido Valente disse da criatura: «Rui Rio é uma anormalidade sem importância, um vice-reitor do liceu de Cinfães que se enganou na porta».

Dúvidas (273) - Boosterism? Onde é que já ouvimos algo parecido?

Boosterism: That's Boris Johnson's new economic mantra as he plans to turbo-charge Britain in the run-up to Brexit

  • Prime Minister Boris Johnson 'wants an end to the tight austerity spending rules'
  • Senior Tories say Mr Johnson wants to make a huge investment in infrastructure
  • He is considering proposal to give £100 billion to help bridge North/South divide
  • 'Boosterism' mantra due to get its first outing in emergency Budget in October

    (MailOnline)
Parece o mantra do animal feroz nos seus tempos heróicos, antes de ir estudar para Paris.

Não há fome que não dê em fartura: há mais obesos do que famintos

«As estimativas apontam para 830 milhões de pessoas obesas em todo o mundo, contra cerca de 820 milhões de pessoas famintas.

Esta comparação foi feita ontem, dia 20 de julho, por José Graziano da Silva, diretor geral da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação, no âmbito do FISAS – Fórum Internacional Territórios Relevantes para Sistemas Alimentares Sustentáveis, que pela primeira vez decorreu em Portugal, em Idanha-a-Nova.» (fonte)

Primeiro o «imperialismo, fase superior do capitalismo» (Vladimiro dixit), causou a fome e criou famintos. Depois a globalização, fase superior do imperialismo, causou a fartura e criou obesos. Está tudo explicado.

30/07/2019

SERVIÇO PÚBLICO: Um exemplo exemplar, infelizmente raro


«Os ideólogos pós-modernistas pretendem destruir as bases da civilização que proporcionou ao mais alto nível a liberdade, procura da felicidade, prosperidade e que mais massas levantou da pobreza em países que adotaram o seu sistema económico, o capitalismo, como por exemplo a Índia. O objetivo neomarxista é transformar as universidades, instituições que deviam transmitir todas as conquistas da civilização ocidental, em completos campos de doutrinação. (...)

No entanto, quem preza a liberdade e a prosperidade que vivemos no Ocidente deve fazer frente a esta ideologia. Além disso, devemos tratar cada ser humano como um indivíduo único, que tem características próprias que definem o seu curso de vida. Um dos aspetos do seu curso de vida é, então, a entrada na universidade que deve ser independente de características físicas que o indivíduo não controla. Nem o Estado nem a reitoria de uma universidade pública ou privada deve através de critérios arbitrários que nada têm que ver com as capacidades de um indivíduo definir se este entrará no ensino superior.»

Vicente Teles Baltazar, Estudante do ensino secundário

Estado empreendedor (106) - o aeroporto que só abria, abre ou abrirá aos domingos (10)

[Continuação de outras aterragens: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui]

Recapitulação

Ao princípio era o verbo do Eng. José Sócrates: mais de um milhão de passageiros até 2015 e o investimento seria recuperado nos 10 anos seguintes. Era o multiplicador socialista a funcionar de acordo com o estudo «Plano Regional de Inovação do Alentejo» da autoria de Augusto Mateus, um ex-ministro socialista da Economia do 1.º governo de Guterres. Segundo o estudo o aeroporto de Beja iria constituir uma «plataforma logística para a carga a receber e a expedir de/para a América e África, incluído o transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus».

Isso não impediu o emérito economista mais tarde, em entrevista ao Expresso, de dizer «temos de ter a coragem de dizer não a muitos projectos» porque «só se devem apoiar projectos que trazem algo de verdadeiramente importante em matérias de reestruturação e reorientação da economia portuguesa». Sem dúvida que a ginástica do emérito exige muita coragem.

Últimos desenvolvimentos

«Depois de aterrar esta manhã (ontem) no aeroporto de Beja o Benfica teve de esperar 45 minutos para poder sair do avião. (...)  a demora deveu-se ao facto de não estar presente, no momento da aterragem, nenhum membro da alfândega ou do Serviço de Estrangeiros e Fronteiros (SEF)» (Observador)

Não se percebe a surpresa (vê-se logo que não frequentam este blogue). Pois se o avião com os campeões nacionais do chuto chegou na segunda-feira e o aeroporto só abre aos domingos.

Nota: Este é mais um exemplo do efeito que baptizei de Lockheed TriStar e que no Portugal dos Pequeninos ocorre com inusitada frequência. Em linguagem popular pode ser assim descrito: «perdido por cem, perdido por mil».

29/07/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (198)

Outras avarias da geringonça e do país.

As pessoas não são números

O episódio das 780 mil «golas» inflamáveis distribuídas aos velhinhos perdidos por esses vales e montes para se protegerem dos incêndios florestais, golas que afinal,explicou a Protecção Civil, eram apenas para “merchandising“ e “propaganda“, é tão grotesco que qualificaria o Portugal do Dr. Costa para ser classificado como património mundial do ridículo e da pequena e média corrupção.

A família socialista tem imenso jeito para o negócio

Ajuda a perceber o episódio o facto de as «golas» terem custado mais do dobro do seu preço de mercado e o seu fornecimento ter sido adjudicado a uma empresa unipessoal do marido da presidente da Junta de Freguesia de Langos, no concelho de Guimarães, eleita pelas lista do PS.

Deixando perceber que num novo mandato perderá o resto da pouca vergonha que ainda finge ter, Costa quer rever o modelo de recrutamento dos quadros do Estado para aumentar a «transparência e igualdade de oportunidades», que no patuá socialista significa colocar os membros da grande família dos novos-situacionistas.

28/07/2019

O racismo como problema social é uma profecia auto-realizada do berloquismo

Existem, sempre existiram e possivelmente sempre existirão, em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo, pessoas com um preconceito racista, pois se até existem preconceitos em várias regiões, a começar entre lisboetas e setubalenses, em relação aos alentejanos ou no Alentejo em relação aos beirões que lá iam trabalhar, depreciativamente chamados ratinhos.

Que esse preconceito tenha sido ou seja um problema social é outra coisa diferente. Ou, mais exactamente, era outra coisa até que a estratégia berloquista descobriu que poderia vitimizar e instrumentalizar em seu proveito algumas minorias, nomeadamente negros e ciganos (as etnias asiáticas tem sido poupadas, et pour cause), para uma nova «causa fracturante» - a luta contra a mais imaginada do que real descriminação dessas minorias, luta que objectivamente as considera «raças inferiores», incapazes de se afirmarem por si próprias.

O resultado da exacerbação das diferenças, reais ou supostas, acabará inevitavelmente por alimentar o preconceito até contaminar a sociedade portuguesa tornando-o um problema social. Estará então cumprida a profecia.

Dúvidas (272) - Algum dos 13 portugueses assassinados pelas FP25 entre 1980 e 1987 vai ter uma rua com o seu nome?


«A Câmara de Lisboa aprovou na quinta-feira, por unanimidade, uma proposta do BE para dar o nome da vereadora e ativista brasileira Marielle Franco, morta em 2018, a uma rua da capital portuguesa.»

27/07/2019

Porque não fiquei surpreendido, ainda outra vez? (9)

Alguém acredita que Kim alienará a sua nomenclatura político-militar subtraindo-lhe o armamento nuclear? Perguntei-me várias vezes: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8)

A propósito dos dois mísseis provocatoriamente lançados na quarta-feira, lembrei-me de ter lido um interessante artigo sobre as «Non-working-level talks» (é este o título na versão impressa da Economist) entre Trump e Kim, que vai no mesmo sentido do que a este respeito tenho escrito, de onde respigo as seguintes passagens:

«Trump, em contraste, está sempre em busca de um triunfo na televisão. Ele não usa a vileza do Sr. Kim contra uma criatura que mandou matar o tio, o meio-irmão e muitos outros. Pelo contrário, depois de três reuniões, o déspota é um amigo firme. Nem o arsenal nuclear de Kim parece ser uma ameaça para o senhor Trump. Desde o primeiro encontro com o jovem ditador numa cimeira em Singapura há pouco mais de um ano, «desapareceu todo o perigo». Por artes mágicas.

Para os desmancha-prazeres, não apenas o Sr. Kim manteve o seu arsenal nuclear, como sossegadamente o expandiu desde então para talvez 60 ogivas. Apenas os testes de bombas nucleares e de mísseis de longo alcance foram interrompidos, por enquanto. Killjoy-in-chief é John Bolton, conselheiro de segurança nacional do Sr. Trump. Há muito tempo ele destaca a litania de promessas quebradas da Coréia do Norte. Apontou que não estava ao lado de seu chefe em Panmunjom, mas a mais de 1.600 quilômetros de distância, em importantes negócios na Mongólia. (...)

Parece improvável que o Sr. Trump tenha a fé cega que ele às vezes professa na sinceridade do Sr. Kim. (...) 

(...) Um boato que circula em Washington sugere que Trump concordará em suspender as sanções em troca de um mero congelamento do programa nuclear da Coréia do Norte, sem abrir mão das bombas que já produziu. Autoridades americanas negaram veementemente tal perspectiva. Houve indícios, no entanto, de que os Estados Unidos poderiam aceitar um acordo escalonado, no qual gradualmente se aproximaria da Coréia do Norte em troca de uma série de pequenas concessões, em vez de um acordo único de desarmamento completo para alívio generalizado. das sanções.

Tal gradualismo não funcionou com a Coreia do Norte no passado

Como já escrevi algumas vezes, nada disto constitui um insucesso para um Trump que não visa a paz no mundo ou qualquer outro desígnio grandioso, nem mesmo alcançar um resultado concreto. O que está em causa é o processo trumpiano, um processo em que os meios são tudo e os fins são pouca coisa. Não é impossível que o resultado final seja positivo, mas será um resultado aleatório. Acrescento que não visando um resultado concreto, há pelo menos para já uma unitended consequence das iniciativas de Trump: transformar Kim de assassino e ditador inconfiável num estadista.

Dúvidas (271) - Também podemos chamar neocomunistas aos admiradores do socialismo soviético?


Supondo que faz sentido chamar neonazi a alguém porque o Estado Nazi se decompôs há 74 anos, como o Estado Soviético também se decompôs 44 anos depois, se fosse um encontro promovido pelo Sr. Jerónimo com os comunistas europeus (se ainda houvesse alguns fora deste nosso rectangulozinho) o Expresso faria o título «Neocomunistas europeus reúnem-se em Lisboa»?

26/07/2019

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (87) - Diferentes mas iguais

Outras preces

«Quero dizer, no entanto, que Marcelo é e nunca deixou de ser um produto intelectual do Estado Novo, que por muito que se entusiasme com “o povo” e aprecie o “contacto” com “as pessoas”, desconfia instintivamente delas, ao mesmo tempo que sendo um político que não fez nem faz outra coisa para além das intrigas de corredor e gabinete de uma “classe política” obcecada com a “politiquice”, desconfia instintivamente dessa “classe política”, da sua tendência natural para essa “politiquice”, e da incapacidade do “povo” para não ser enganado pelas artimanhas da dita “classe”.

E como poderia ser de outra maneira? Como poderia Marcelo não desconfiar dos “políticos” e do “povo” que os observa, quando todos os dias se olha ao espelho, e todos os dias vê nas sondagens a sua estratosférica popularidade? Como poderia Marcelo não desconfiar das “pessoas” e de uma “classe política” que as “manipula” em prol das suas ambições pessoais, quando sabe que ele próprio manipula “as pessoas” em prol das suas ambições pessoais, e vê “as pessoas” deixarem-se levar pelo seu engodo?

Como poderia Marcelo não desconfiar da possibilidade de “os políticos” sacrificarem políticas potencialmente eficazes em detrimento da sua popularidade, quando o próprio Marcelo sacrifica a defesa da normal alternativa democrática em detrimento da sua popularidade? No fundo, a falta de apreço de Marcelo por essa normal alternativa democrática é também um sintoma de uma enorme falta de apreço por si próprio. Não admira que sinta uma tão grande necessidade de aprovação popular

Excerto de «O Presidente e os consensos», Bruno Alves no Jornal Económico

Por falar em consenso, em tempos definimos-lo assim no Glossário:

Consenso (politiquês)

Um acordo virtual, sobre matérias que não se sabe exactamente quais são, mas sobre as quais se suspeita existirem opiniões muito diferentes, que nenhuma das partes está muito interessada em conhecer. Durante o processo de procura do consenso todos se sentem obrigados a fingir boa vontade para chegar a resultados práticos que, em definitivo, ninguém quer chegar.

Há dois desfechos possíveis para o consenso: o positivo e o negativo (em rigor equivalem-se nos efeitos finais). No consenso positivo concorda-se com «grandes princípios», o que entre gente sem princípios não significa o que significa. No consenso negativo concorda-se que não se concorda, por a outra parte estar de má fé como se demonstrou durante o processo negocial (quem está de má fé é afinal o único ponto insusceptível de consenso).

Com o Boris já são pelo menos três bazófias só nos países da NATO

25/07/2019

ACREDITE SE QUISER: Não, não é pelo que parece que é


O que trouxe esta notícia até ao Acredite se quiser não foi a aula de código da estrada para a condução de carroças, foi um jornal progressista como o Público ter-se referido aos roma como ciganos, designação que como se sabe tem uma conotação negativa, por exemplo «o gajo é um cigano». Ou, na sabedoria popular, como «um olho no burro e outro no cigano», «à conta dos ciganos, todos furtamos», «roubam os ciganos. mas comem os aldeanos» ou «arrenego do judeu e do burguês, e o homem de Cavês, mas vem o Vilarês, que é o pior dos três e do cigano no seu contrato é o pior dos quatro».

What it takes to the whatever it takes?

Com o «whatever it takes» de Mario Draghi há seis anos e as medidas que se seguiram como as TLTRO (operações de financiamento de médio longo prazo), as reduções sucessivas da taxa directora e o programa de aquisição de ABS (asset backed securities) emitidos por empresas privadas não financeiras e um programa de compra de covered bonds emitidas por entidades financeiras, o BCE salvou o Euro da desintegração

Foi uma medida equivalente à de um médico administrar uma dose de morfina a um paciente com fracturas múltiplas que caiu de um quinto andar. Passados seis anos, a continuação dessas medidas equivale ao paciente continuar a receber a sua injecção diária sem a qual já não consegue viver.

Não será por acaso que, com excepção da Irlanda e de Malta, por razões muito particulares, os países que mais cresceram nos últimos 10 anos estão todos fora da Zona Euro. No caso de Portugal, com uma taxa de poupança que é um terço da média da Zona Euro, taxas de juro próximas de zero são um incentivo irresistível a manter um dos mais elevados endividamentos públicos e privados da União Europeia e do mundo.

Não admira por isso que uma das boas novas regularmente anunciadas seja a dos leilões de dívida pública a taxas baixas, o que funciona como uma espécie de garantia de que tudo continuará na mesma. As consequências a longo prazo são bem conhecidas. Basta olhar para os últimos trinta anos com um crescimento anémico que nos deixa mais pobres em termos relativos e um endividamento cada vez mais pesado.

[Para aprofundar o tema: leiam-se os posts «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e «Da próxima vez também não vai ser diferente» e a série« QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará?»]

Adenda: escrito a propósito da anunciada conferência de imprensa do BCE onde o pior que podia acontecer seria Draghi anunciar mais do mesmo. Agora que terminou, sabemos que aconteceu isso mesmo, mais do mesmo: uma provável descida dos juros e um novo programa de compra de ativos. Veja-se o vídeo da conferência.

24/07/2019

Curtas e grossas (52) - O argumento definitivo contra o nacionalismo como doutrina

«Uma pessoa percebe os erros do nacionalismo quando se vê obrigada a partilhar a nacionalidade com o ministro Eduardo Cabrita»

Helena Matos no Blasfémias

Evidentemente que o argumento é igualmente válido quando se substitui o nome da criatura pelo do seu chefe ou qualquer outro nome da grande família dos dirigentes socialistas,