«Centeno conseguiu fugir quando devia. Centeno é um bom economista. Sabia perfeitamente que a coisa ia rebentar, saiu antes de rebentar e está a rebentar no colo do seguinte. E Mário Centeno está confortavelmente no Banco Portugal a dizer o que lhe apetece. É uma jogada em termos de carreira, não podia ser melhor. Sair a meio da pandemia foi uma cobardia um bocadinho exagerada, talvez até vergonhosa, mas em termos de carreira percebo perfeitamente a sua jogada. E dominou perfeitamente o processo, não há dúvida que conseguiu um enredo perfeito para se apresentar como mago das finanças. Em termos de culto pessoal foi a melhor jogada de todas. Mas como economista sabia perfeitamente o que estava a fazer e sabia que estava a enganar as pessoas. Primeiro, estava a ser muito austero. Segundo, estava a aumentar essencialmente uma carga sobre a economia, prejudicando o desenvolvimento e cortando nos investimentos, mais uma vez prejudicando o desenvolvimento. Centeno comprometeu o futuro do país para conseguir vender um mito aritmético de que era possível sem austeridade reduzir o défice. E é certo que conseguiu reduzir o défice, mas teve azar que saiu com o défice pior do que entrou devido à pandemia. Foi azar. O que é mau é ter conseguido enganar as populações com o aumento da receita, com o aumento da carga sobre a economia e com os cortes nos investimentos e nas despesas de manutenção que, . evidentemente, degradam a qualidade de serviço. O Estado degradou- se, descapitalizou-se durante esse mandato e continuou até hoje. Ao mesmo tempo, do lado privado, a banca e as empresas estão a fazer uma coisa parecida à sua maneira, porque estão a tentar manter artificialmente níveis de consumo, vendendo as empresas ao estrangeiro, reduzindo a poupança e reduzindo o investimento. Estes 25 anos estão a comprometer a situação do futuro e isto foi feito com os olhos abertos. Não foi feito por engano. Foi uma opção e essa opção foi abençoada por uma maioria absoluta. Quem sou eu para dizer que está errado? O país está contentinho, as consequências virão a seguir.»
João César das Neves, economista e professor da Católica, em entrevista ao Jornal Nascer do Sol
1 comentário:
Excelente economista. Descapitalizar e degradar o Estado, é o menos.
Comprometer o futuro do país não me parece grave.
É mau ter conseguido enganar as populações (quantas serão? portugueses e...coiso), concedo. Mas, em termos de carreira não podia ser melhor.
Estou como o sr Das Neves,quem somos nós para dizer que está errado aldrabar, enganar, degradar, descapitalizar e ainda receber um tacho milionário?
É o desejo de qualquer cidadão de bem e cristão como o sr Das Neves.
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