Pelo menos desde os tempos do seu fascínio pelo Eng. Sócrates que reparei na atracção do Dr. Miguel Sousa Tavares por "homens-fortes", pelo que não me surpreendeu o enlevo que tem mostrado pelo Czar Vlad. Porém, na última peça da sua coluna no Expresso levou esse enlevo, suportado por abundante ignorância histórica (*), ao ponto de justificar a invasão que para ele se fica a dever à "indisfarçada vaidade" de um Zelinsky que, movido pelo seu desejo de celebridade, não aceita negociar a submissão ao Czar.
Pensei em escrever um post a zurzir nas enormidades do Dr. Tavares. Desisti ao ler a resposta de Henrique Raposo «Se Sousa Tavares tivesse razão, Portugal não existia (nem a Irlanda, nem a Noruega, nem a Polónia)» para a qual encaminho quem aqui me lê. O último parágrafo à guisa de teaser:
«Se a lógica de Sousa Tavares fosse o motor da História, nós, portugueses, devíamos ter estado quietos enquanto os franceses saqueavam Portugal, enquanto matavam homens e violavam mulheres. Aliás, se Sousa Tavares tivesse razão, a corte inteira que fugiu da luta contra os franceses (entre 7 mil e 10 mil pessoas) era um primor de sensatez e heroísmo. Pior: se Sousa Tavares tivesse razão, Portugal não podia existir, porque estava e está na “esfera de influência” da Espanha, que chegou a ser a maior potência do mundo. Se Sousa Tavares tivesse razão, os EUA não existiam, tal como a Irlanda independente, tal como a Holanda, tal como a Noruega, etcétera. De facto, é uma maçada isto de os povos desejarem liberdade e respeito.»
(*) Ignorância pela qual já foi zurzido várias vezes pelo outro contribuinte, nomeadamente pelos disparates que escreveu sobre os Países Baixos (O patriotismo tudológico a cavalo da ignorância pesporrente).
2 comentários:
Convenhamos, no entanto, que existem atitudes reiteradas e confirmadas que lançam um véu de suspeita sobre as verdadeiras intenções do Presidente da Ucrânia e sobre as anunciadas causas na génese da atroz e desumana 'operação militar especial' lançada por uma Rússia manifestamente subserviente à vontade tirânica de quem a governa.
Como explicar, a não ser por mediático oportunismo, a insistência na rápida adesão à NATO e à UE, que não pode deixar de saber que são impossíveis?
Acima de tudo, como entender a recorrente exigência do estabelecimento de uma zona de exclusão aérea cujo primeiro efeito seria, porque não poderia deixar de ser, o imediato início de uma guerra à escala mundial?
Não está em causa o sofrimento do povo ucraniano, ou o facto de a guerra não ser desejada nem entendida pela maior parte do povo russo. Tampouco está em causa a coragem e o denodo pelo Presidente da Ucrânia manifestados até à exaustão.
Mas como explicar as exigências que faz, não podendo deixar de conhecer a impossibilidade de umas e o inevitável cataclismo que a terceira acarretaria?
Refleti um pouco sobre o tema em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/03/tempos-novos-mentiras-velhas.html, que convido a visitar.
Por outro lado, ouvem-se as bravatas de quem usa os ucranianos como carne para canhão. Creio que é opinião generalizada que a Ucrânia nunca conseguirá vencer militarmente a Rússia – portanto, Zelensky deve estar à espera de um incidente que envolva a NATO, e assim terá os milhões de mortos que tanto ambiciona. Enquanto isso não acontece, conduz os ucranianos para uma saída numantina, ou à moda de Masada, o que tem mais afinidade com a sua condição.
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