«Humankind can not bear very much reality» |
«A ideia de verdade ocupa um lugar central na cultura ocidental: Arendt afirma que somos herdeiros da procura pela verdade que se afirmou com os Gregos e permitiu o nascimento da ciência; a modernidade afirmou-se em torno da Verdade-com-letra-maiúscula, que substituiu os dogmas anteriores, colocando a Razão e os cientistas no lugar de Deus e dos teólogos; e notemos como o conceito de verdade se revela fundamental para a democracia liberal: a discussão política frutuosa só é possível se partir de factos aceites pelas partes – se discutirmos os próprios factos, o compromisso é posto em causa.
É por esta última razão que o estudo dos regimes autoritários ou totalitários compreende o estudo da propaganda como ataque à factualidade. Como diz Arendt: “Considerada de um ponto de vista político, a verdade tem um caráter despótico. Ela é por isso odiada pelos tiranos, que temem, com razão, a concorrência de uma força coerciva que não podem monopolizar.” Podemos, então, afirmar que o cerne do iliberalismo reside aqui: no ataque à factualidade e na tentativa de fragilizar o próprio conceito de verdade.»
Patrícia Fernandes, «A guerra é a origem de todas as coisas – Parte III»
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