Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/03/2022

O iliberalismo em geral e a tirania em particular odeiam a verdade e os factos

«Humankind can not bear very much reality»

«A ideia de verdade ocupa um lugar central na cultura ocidental: Arendt afirma que somos herdeiros da procura pela verdade que se afirmou com os Gregos e permitiu o nascimento da ciência; a modernidade afirmou-se em torno da Verdade-com-letra-maiúscula, que substituiu os dogmas anteriores, colocando a Razão e os cientistas no lugar de Deus e dos teólogos; e notemos como o conceito de verdade se revela fundamental para a democracia liberal: a discussão política frutuosa só é possível se partir de factos aceites pelas partes – se discutirmos os próprios factos, o compromisso é posto em causa. 

É por esta última razão que o estudo dos regimes autoritários ou totalitários compreende o estudo da propaganda como ataque à factualidade. Como diz Arendt: “Considerada de um ponto de vista político, a verdade tem um caráter despótico. Ela é por isso odiada pelos tiranos, que temem, com razão, a concorrência de uma força coerciva que não podem monopolizar.” Podemos, então, afirmar que o cerne do iliberalismo reside aqui: no ataque à factualidade e na tentativa de fragilizar o próprio conceito de verdade.»

Sem comentários: