Um dia destes o Jornal Eco noticiou o fecho da central a carvão de Sines numa peça com o título «O adeus a uma das centrais a carvão mais poluentes da Europa». Lá pelo meio da peça, que era uma espécie de entrevista a um funcionário pré-reformado da EDP, escrevia-se «a central a carvão da EDP também há de ser lembrada como a instalação com maior peso nas emissões de carbono em Portugal: em 2018, foi a 17ª central térmica a carvão e a 22ª instalação com maiores emissões de dióxido de carbono da União Europeia.»
Não sei se foi apenas ignorância do jornalista ou se foi uma encomenda para justificar o fecho por razões mais ou menos inconfessáveis de uma central que segundo Clemente Pedro Nunes, professor do IST e especialista em energia era «a maior e a mais eficiente da Península Ibérica».
Segundo Clemente Pedro Nunes as verdadeiras razões para fechar a central são:
«A EDP quer fechar a central de Sines porque esta tem de enfrentar as FIT concedidas pelo Governo Sócrates a 7000 MW de potências elétricas intermitentes, eólicas e fotovoltaicas, e que têm a capacidade legal de a expulsar do mercado.
Sim, a eletricidade produzida a menos de 40 euros/MWh pode ser expulsa do mercado para o consumidor ser obrigado a pagar 380 euros/MWh de eletricidade produzida através duma FIT duma central fotovoltaica!
E, sem clientes, o que pode fazer a central de Sines?
Ou para, funcionando num regime de para-arranca ruinoso, ou reduz a operação, deixando de fornecer eletricidade à rede até chegarem de novo as “horas de ponta”.
Em qualquer dos casos, o resultado é também um desastre em termos do aumento das emissões de CO2.
Até 2019, a central de Sines beneficiava dum CMEC, que é um mecanismo contratual que garante que quem dele beneficie tem sempre uma rentabilidade muito atrativa, através duma compensação no final do ano.
Assim, a EDP não estava preocupada porque tinha a certeza de que, no final do ano, iria sempre ter um lucro garantido, mesmo que a respetiva exploração tivesse pesadas perdas devido à concorrência desleal das FIT.
A partir de 2019, e já sem os CMEC, a EDP passou a perder dinheiro com a central de Sines, “massacrada” pelas FIT concedidas às potências elétricas intermitentes.
O que se devia fazer era corrigir o disparate das FIT atribuídas às potências intermitentes.
Ou seja, negociar a alteração das FIT para que estas não tenham o “poder de destruir quem produz eletricidade em regime de mercado”.
Em circunstâncias normais, seria isso que a EDP deveria ter solicitado ao Governo.
Mas como a EDP foi, desde 2005, a grande defensora das FIT atribuídas a potências elétricas intermitentes, não podia vir agora destruir a base da sua campanha mediática.»
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