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30/03/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (25) - Em tempo de vírus (III)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Estamos em guerra?

Sim, é o que diz o governo por bocas várias, incluindo a da ministra da Saúde e até do Dr. Mário Centeno que com as suas cativações e outros expedientes orçamentais deixou o exército para esta guerra sem munições.

É normal. A história mostra que os governos quando se sentem entalados frequentemente inventam um inimigo externo, a maior parte das vezes para tentar entalar os inimigos internos.

Os ricos que paguem a crise

Vocifera em coro quase toda a nomenclatura do regime, invocando as supostas obrigações de solidariedade da Óropa para com o Portugal dos Pequeninos e exigindo coronabonds. É uma espécie de reedição do mote maoista do PREC os ricos que paguem a crise.

O Dr. Costa entrou no coro como solista no papel de “pedinte mal criado”, engrossou a voz e apelidou de «repugnante» o discurso do ministro das Finanças de um dos ricos que, diz o Dr. Costa, defendeu que se deveria averiguar o que andaram os pedintes a fazer com o dinheiro durante de 6 anos de crescimento da Zona Euro. Pela parte portuguesa respondi aqui: o Dr. Costa gastou-o em acções da mais pura solidariedade socialista para promover o bem-estar da sua freguesia eleitoral.

E quem são os ricos? perguntareis e eu respondo com o diagrama seguinte: são os azuis. O que, por casual coincidência, faz dos vermelhos os pobres, como na vida real.

Statista.com

Temei que os vossos desejos se realizem

Temo que os que vociferam as obrigações de solidariedade da Óropa para com o Portugal dos Pequeninos exigindo coronabonds, tentando enfiar à pala da pandemia a mutualização das dívidas públicas, ainda não tenham percebido aquilo que as pessoas mais atentas já perceberam há muito. Se isso acontecer, inevitavelmente, os ricos que pagarem a crise exigirão que uma grande parte do poder político que resta ao Dr. Costa, e aos seus homólogos, transite via Bruxelas para os ricos.

O que terá várias consequências: (1) fará o Dr. Costa retornar a presidente de câmara e (2) obrigará a esquerdalhada a fazer manifs na Rue de la Loi ou na Rue Wiertz em Bruxelas, em vez de S. Bento ou Terreiro do Paço. Se for assim, talvez eu deva inscrever-me no clube dos Eurobonds.

«Estamos preparados»

Foi o que disse a Dr.ª Temido enquanto a directora-geral de Saúde ia dizendo coisas variadas que começaram por ser «não há grande probabilidade de chegar um vírus destes a Portugal», passaram por anunciar o fim do mundo com um milhão de infectados e continuaram a contar estórias da «falsa sensação de segurança» de tudo o que o DGS não dispunha ou não estava capacitada para fazer.

Há dias, o Dr. Costa confirmou, enfatizando que «até agora não faltou nada aos hospitais e não é previsível que falte». Ao dizê-lo, esqueceu o conselho de António Aleixo: P'ra a mentira ser segura / e atingir profundidade, / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade.

Foi por isso prontamente desmentido por enfermeiros, que alegam não ter material de protecção, e por médicos e farmacêuticos que o acusam de mentir, perdão, dizer inverdades. E até por gargantas-fundas que denunciam a insuficiência dos testes e por autarcas que garantem que as estatísticas da DGS não são credíveis. Dir-se-à que podemos confiar tanto no autarca em causa como no Dr. Costa, mas o certo é a própria DGS já ter admitido erros e, pelo menos quanto ao Alto Minho, as contas não batem certo, como mostrou O Insurgente.

Em contrapartida, a imprensa do regime manifesta en masse a sua confiança no Dr. Costa e nas Dr.ªs Temido e Graça Costa. Esta última teve direito a uma panegírica peça do diário da manhã DN com o comovente título «Uma falsa frágil, como as orquídeas que ama».

Nas crises, os portugueses saltam para o colo do Estado Sucial

Saltam para o colo porque acreditaram nas tretas socialistas e não dispõem de almofada financeira (a poupança das famílias que já era miserável voltou a descer o ano passado). E o colo do Estado Sucial é acima de tudo a dívida pantagruélica que aumentou em valor absoluto com a despesa pública para financiar a «reposição de direitos» (35 h, carreiras, etc.) da freguesia eleitoral e o seu aumento numérico (mais 26 mil funcionários desde 2016). Enquanto o investimento pública mirrava (os 4.853 milhões orçamentados em 2019 foram menos 900 milhões) deixando a administração pública em péssimas condições para responder ao normal, quanto mais ao anormal de uma pandemia.

É nesta altura que o Dr. Centeno, mentindo como um político profissional ou talvez abalado pelo adiamento sine die da sua trasladação para o BdP, garante que tem margem para responder à crise e não precisará de orçamento rectificativo.

Já se sabia e está agora a confirmar-se que, não obstante o governo socialista e a sua geringonça serem responsáveis pela falta de meios da desgraçada resposta à pandemia, o certo é que das sondagens parece concluir-se que do Dr. Costa está perdoado. A sondagem do Expresso a semana passada mostrou que três quartos dos inquiridos têm confiança no Dr. Costa e, milagre dos milagres, dois terços acham que a Dr.ª Temido está no lugar certo.

A sondagem da Pitagórica deste fim-de-semana autoriza a dúvida sobre a confiança dos eleitores no Dr. Costa ao mostrar que os inquiridos que nunca votariam nele (33%) ultrapassam os que votariam de certeza (26%). Relativa falta de confiança que não impede os inquiridos com 41,7% das intenções de voto (um ganho de mais de 5% em relação às últimas eleições) quase darem a maioria ao PS. O PSD, sob a batuta do Dr. Rio, aspirante a parceiro do Dr. Costa, consegue o feito de ainda perder 2,5%, na companhia do Chicão que perde 1,5%. Tudo em benefício do Dr. Ventura que já vai em 8,1% das intenções do voto perto de destronar do pódio a Dr. Catarina.

Ajudas de um Estado Sucial que não tem dinheiro e tem uma dívida pantagruélica

Disse o Dr. Costa na entrevista promocional ao Público que «a existência de um Estado social não é uma despesa, mas uma condição de sucesso». Porém, encontrando-se Portugal nos últimos lugares da UE28, a ser todos os anos ultrapassado por mais um país sobrevivente do comunismo soviético, o Dr. Costa deveria ter concluído face ao manifesto insucesso que o Estado Sucial português, gerido pelas várias modalidades de socialismo, é cada vez mais só uma despesa. Admitido isso, de seguida o Dr. Costa deveria demitir-se antecipando o retorno a autarca.

E agora, face à pandemia, que o Estado Social poderia demonstrar que não é um Estado Sucial, o Dr. Costa vai anunciando sucessivas medidas ridículas que começaram por 100 milhões, continuaram com 200 milhões, 2.000 milhões, 9.200 milhões e 10 mil milhões. Enquanto isso, em países que não dispõem de Estados Suciais, o governo britânico anuncia medidas como o Coronavirus Self-employment Income Support Scheme com um subsídio mensal de 80% até £2,500 e um fundo de £210 milhões para a vacina contra o coronavírus; Trump faz aprovar medidas totalizando dois biliões de dólares, o equivalente a nove vezes o PIB português e até Bolsonaro tomou até agora medidas que representam 4% do PIB.

1 comentário:

Unknown disse...

"Há 59 anos - precisamente no ano em que o actual primeiro-ministro nasceu - o então primeiro-ministro Oliveira Salazar enfrentou uma guerra verdadeira em várias frentes, que se prolongou por 13 anos, e nunca pediu dinheiro a ninguém.
Agora, o primeiro-ministro António Costa enfrenta apenas uma espécie de guerra e, ao fim de suas semanas, já anda de mão estendida."

Pedro Arroja, Blog "Portugal Contemporâneo", 27/3/20.