«O bolsonarismo e a nova direita fizeram 52 deputados federais e emergiram com uma força imprevista, mas ainda não os conhecemos muito bem e nem entendemos a dinâmica entre eles.
Há algumas explicações para esse “branco” que atingiu as redações brasileiras. Não discordo que os jornalistas sejam um contingente predominantemente de esquerda ou de centro, e não descarto que a ideologia possa ter minado a cobertura das eleições. É verdade também que o jornalismo tem sido progressivamente contaminado pelo ambiente polarizado das redes sociais e vem transformando opinião em commodity – fazendo parecer necessário todo mundo dar opinião sobre tudo, e gerando uma confusão entre o espaço da opinião e o da informação. Mas, para mim, a principal razão para explicar o que se passou na cobertura das eleições tem a ver com o caráter disruptivo da candidatura Bolsonaro. Nas últimas duas décadas, o jornalismo nacional se acostumou a transitar no ambiente da social-democracia. O jornalismo político mainstream é um integrante ativo do sistema político, e subestimou as chances de vitória de Bolsonaro da mesma forma que todo o sistema. Depois de tantos anos vendo os sociais-democratas petistas e tucanos se alternarem no poder, os jornalistas passaram a se comportar como se o “sistema” fosse invencível, e nem mesmo a onda direitista que vem varrendo algumas partes do mundo nos fez duvidar dessa premissa. Pela mesma razão, subestimamos as redes sociais como arena política, e deixamos de cobri-la como tal. O fato é que Bolsonaro não pode mais ser encarado como esdrúxulo e absurdo. Ele é a nova realidade do poder e assim tem de ser compreendido. (...)
Creio que aí temos um norte. Há um mundo a desbravar, que vem se movimentando há tempos sem que tivéssemos nos dado ao trabalho de investigá-lo com rigor e abrangência. Há uma nova ordem política emergindo, por força das urnas, e o jornalismo não pode mais perder tempo se escandalizando com ele. Que a esquerda esteja perdida ou em crise de identidade é compreensível e natural. Mas o jornalismo profissional não tem (ou não deveria ter) nada a ver com isso. O trabalho diante de nós é gigantesco, e tem de começar com uma reflexão sobre os vacilos, os pré-julgamentos, os erros e a (auto)complacência que turvaram a nossa visão nos últimos tempos. Só assim poderemos aprender com o que aconteceu e não mais deixar a história desfilar na nossa frente como se fosse um vídeo bizarro do YouTube.»
Excerto de Hora de acordar - Um caminho para cobrir o governo Bolsonaro, um lúcido artigo da jornalista Malu Gaspar no piauí da Folha de S. Paulo
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
01/12/2018
CASE STUDY: Um imenso Portugal (49) - Exortação de uma jornalista brasileira aos jornalistas que ficaram encalhados no anti-fascismo de fancaria
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