A semana passada tivemos a visita muito celebrada do Imperador Xi Jinping recebido por uma nomenclatura do regime babada, em sentido literal e em sentido figurado, em cerimónias tão vergonhosamente untuosas que envergonhariam um país que tivesse vergonha. A falta de vergonha só é igualada pela falta de sentido estratégico dessa nomenclatura que se dispõe a ser um instrumento da política externa e das ambições de um regime despótico de partido único que agressivamente se afirma como uma potência global. Também notável foi a correspondente falta de vergonha de uma esquerdalhada, sempre a fingir-se sensível aos direitos humanos, que não esboçou um protesto pela presença da clique dirigente de um dos país onde é mais notória o desrespeito por esses direitos.
Falando na 5.ª feira passada sobre o endividamento na conferência sobre a Reforma das Finanças Públicas, o investidor internacional Paul Kazarian alertou Costa que «pode acabar cozido como o sapo na panela», aludindo à conhecida metáfora do sapo que vai ficando na panela ao lume até que a água começa ferver e é tarde de mais para sair.
Pessoalmente, parecer-me-ia bem merecida a cozedura de Costa, se daí não resultasse com toda a probabilidade mais um resgate e uns anos de privações possivelmente inúteis neste país semi-bourbónico onde tudo se esquece e nada se aprende (dizia-se da dinastia dos Bourbons que nada aprendiam e nada esqueciam).
O certo é que, como Kazarian sublinhou, «entre 2002 e 2017 o PIB de França, Grécia, Itália, Portugal e Espanha, no seu conjunto, aumentou cerca de €6 mil per capita enquanto o passivo líquido do seu sector público se agravou em €34 mil per capita: “Em 15 anos, a riqueza líquida de cada pessoa, homem, mulher ou criança, caiu €28 mil nestes cinco países mais endividados da Europa do Sul, enquanto subiu quase €3 mil per capita nos restantes 23 países da União Europeia.” Na Europa do Sul, cada pessoa já carrega um fardo de €59 mil per capita.»
Confirmando, sem necessidade, sublinhe-se, o seu nepotismo imanente, Costa voltou a nomear uma das suas amigas do peito, desta vez para presidente da FLAD. Trata-se de Rita Faden, sua antiga chefe de gabinete que teve a ambição de ser uma espécie de vice primeiro-ministro e por isso entrou em rota de colisão com os ministros e acabou por sair. A Senhora está tão por dentro das relações luso-americanas como do sistema CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) usado pelo cientista chinês para editar os genes de gémeos o que lhe valeu a prisão por ordem do presidente Xi - a Excelência que nos visitou a semana passada e proporcionou a maior emissão de baba desde Dona Maria II.
Por cá, os presidentes ainda não mandam prender. Por enquanto, o presidente da AR limitou-se a «abafar» o relatório do Tribunal de Contas que põe a nu as ilegalidades do órgão a que preside e as golpadas dos deputados.
Sobre greves, foram tantas esta semana que nem vou falar por falta de espaço. Só refiro, a propósito de uma delas - a dos "carcereiros" - que existem 4400 guardas prisionais para 13.440 presos, ou seja um para cada três. De onde, me permito acrescentar à conclusão que vivemos num estado policial outra constatação lógica: a de que também vivemos num estado prisional.
Pretende o governo socialista apresentar-se com o campeão do acolhimento dos refugiados - na sua maioria migrantes - face a outros governos como o húngaro e o italiano e depois perde o rasto a cinco jovens romenos forçados pelos pais a mendigar.
Pela enésima vez, mais um governo, que também não sabe quantos funcionários públicos tem, anuncia a criação de uma megabase de dados. O adjectivo "mega" faz suspeitar que a coisa megalómana nunca verá a luz do dia e continuaremos a não saber exactamente quantos utentes tem a vaca marsupial pública, para além de não sabermos o que fazem e o que ganham.
A semana passada Centeno celebrou uma espécie de Reforma da Zona Euro que no final tratou-se apenas da decisão de criação do Fundo Único de Resolução que, quando estiver pronto dentro de uns 2 anos (se alguma coisa entretanto não descarrilar na Zona Euro...), terá por missão financiar o resgate dos bancos financiado com uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade. Tudo o resto, incluindo o sistema europeu de garantia de depósitos e, evidentemente, a criação de um orçamento da Zona Euro, ficou no tinteiro. E lá continuará por tempo indeterminado por uma razão muito simples: é uma fantasia que exigiria um Estado Federal, coisa que portugueses e gregos, e talvez os italianos com o seu país a afundar-se, adorariam, desde que pudessem continuar a torrar o dinheiro dos contribuintes europeus, mas que os outros contribuintes europeus não apreciariam por essa mesmíssima razão.
E, já que falo de Centeno, lembrei-me daquele filme meio lamechas de há 40 anos - Kramer contra Kramer - sobre o divórcio dos Kramers, quando o Centeno da Zona Euro mandou o Centeno das Finanças tomar «medidas adicionais a Portugal para cumprir as regras do euro».
Falando de orçamento, não resisto a contar o episódio lido aqui da resposta de um Costa, arrotando Cultura, que reduziu o orçamente da mesma de 219 milhões em 2015 para 179 milhões em 2016 e, perante as críticas, tirou um coelho da cartola e transferiu para o ministério da Cultura os 244 milhões que a RTP gasta para nos ensaboar as meninges, uma actividade que passou a ser cultural.
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1 comentário:
«Também notável foi a correspondente falta de vergonha de uma esquerdalhada, sempre a fingir-se sensível aos direitos humanos, que não esboçou um protesto...»
Não foi bem assim... eu ouvi a Catarina Martins cacarejar umas coisas sobre direitos humanos acerca da China, embora toda a gente saiba que o horizonte do Bloco de Esterco, sobre o assunto, se resume ao orifício anal.
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