«Qualquer tipo de neoliberalismo terá sempre de defender uma redução significativa da despesa pública e a diminuição do peso do Estado na economia. Se o Estado não diminui, não pode haver neoliberalismo, tal como não pode haver marxismo sem controlo público dos meios de produção ou aves sem asas e sem penas.
Imagino que nos livros de Harvey e Žižek não se encontrem dados sobre a dimensão do Estado português, mas basta um pulo à Pordata para encontrar o peso das despesas da administração pública em percentagem do PIB. Em 2005, quando o engenheiro Sócrates tomou conta do governo, esse valor era de 46,7%. Em 2011, quando Passos Coelho tomou posse, era de 50,0%. E em 2014 estava nos 51,7%. (*) O Estado nunca teve um peso tão grande na economia. A despesa pública em Portugal ultrapassa a barreira dos 50% do PIB, o que não acontece em praticamente lado nenhum do mundo civilizado. Nós somos um dos países mais socialistas do planeta – e Alfredo Barroso acha que caímos nas garras do neoliberalismo.
Porquê tamanha confusão? Em parte, porque Passos Coelho tinha um discurso (não uma prática) relativamente liberal para os hábitos portugueses. Em parte, porque dá mais jeito atribuir as falhas do governo aos excessos de um neoliberalismo inventado do que aos abusos de um estatismo real. E assim, a esquerda neo-histérica continua toda entretida com a sua caça ao gambuzino neoliberal, ignorando o verdadeiro elefante no meio da sala: o capitalismo de compadrio que PS, PSD e CDS alimentam há mais de 40 anos.»
«Alfredo Barroso e o gambuzino neoliberal», João Miguel Tavares no Público
Esclarecimento:
Quando era presidente do Brasil nos anos 90, Fernando Henrique Cardoso, farto de ser chamado neoliberal por todos os patetas brasileiros, disse: «Só quem não tem nada na cabeça é que fica repetindo que o governo é neoliberal. Isso é neobobismo.»
(*) Em rigor, como aqui mostra Jorge Costa no Insurgente, a despesa pública ajustada pelo ciclo até terá diminuído ligeiramente, mas isso não resultou da redução do peso do Estado pela mão do governo «neoliberal». Resultou apenas do facto prosaico de não haver dinheiro e a troika estar por cá, como se está a confirmar agora e se verá melhor quando o governo socialista entrar em cruzeiro.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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29/12/2015
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O neoliberalismo visto pelo neobobismo
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