Excertos da entrevista da Revista do Expresso a Niall Ferguson, historiador, autor de vários livros conhecidos, incluindo «Colossus and Empire», «Civilization» e, o mais recente, uma biografia de Kissinger que dá o pretexto à entrevista.
Há uns anos, Ferguson envolveu-se numa polémica para a qual lhe falecia o domínio da dismal science. Foi triturado porque, apesar de falar direito por linha tortas, foi encostado por Paul Krugman que falou torto por linhas direitas. Repare-se como o entrevistador ficou chocado com algumas blasfémias de Ferguson face à vulgata do jornalismo doméstico de causas ou, se preferirem, do jornalismo de causas domésticas.
Acha que o euro vai acabar?
Não. Fui contra a sua criação, mas uma vez que foi criado não faz sentido acabar com ele. Durante a crise da zona euro, quando pessoas como Paul Krugman diziam que ia tudo desmoronar -se, eu disse que não acreditava. E não acreditava porque o projeto é político, e os alemães não deixariam que tal acontecesse, independentemente da dor que tivesse de ser infligida. O que acontece é que na Europa criaram um sistema que não é bem federal, é mais confederal, com um centro fraco, têm uma união monetária e legal, mas o resultado líquido é um crescimento medíocre e dívidas muito altas.
O crescimento já não era estrondoso antes ...
As projeções para a eurozona nos próximos cinco anos são de um crescimento de um por cento, ou algo assim.
Está a falar com um português. Crescermos a esse ritmo já é mais que nos últimos anos ...
Isso é porque as vossas expectativas foram reduzidas devido à experiência da última década. Aliás, deixe-me dizer-lhe que acho que o Governo português foi heroico em levar a cabo uma tarefa quase impossível e tenho simpatia por quem fez isso.
Heróico porquê? Por termos cumprido o que a Grécia não conseguiu cumprir?
Exato. Deve ter sido altamente tentador seguir o caminho grego. Mas Portugal, como a Espanha e a Irlanda, viram que não havia uma opção populista. Não há qualquer saída. É uma fantasia pensar o contrário. A união monetária é virtualmente indestrutível por isso mesmo, a menos que os alemã.es a decidam destruir.
Não é melhor estar com os alemães que estar contra os alemães ou fora do sistema?
Vocês podem pensar que sim. E o exemplo grego provou que é melhor seguir as regras alemãs do que tentar quebrá-las. Mas ainda assim penso num mundo em que, depois da crise e de tudo o que aconteceu em 2008 nos EUA, se não houvesse união monetária, ou seja, se existissem o escudo e a peseta, etc. o resultado teria sido melhor e a perda de emprego verificada teria sido muito menor. Historicamente, teria sido melhor não se ter avançado para a união monetária, os seus custos foram muito superiores aos benefícios. Mas, uma vez criada a união monetária, então agora não é possível desmantelá-la, pelo menos com um custo aceitável. Fazê-la funcionar é o desafio. Só que fazê-la funcionar e conseguir um rápido · crescimento económico é muito difícil. Além disso, já se estavam a ver tendências 'japonesas' na Europa, devido à ·demografia e ao excesso de dívida.
Devíamos na Europa lidar com o problema dos refugiados de outra maneira, também por causa do grave problema demográfico?
É naif a visão de que a Europa tem um problema demográfico e do outro lado estão pessoas jovens e em idade ativa, e que portanto há aqui uma solução. Basta olhar para os dados. Os países continentais europeus são muito maus a integrar na sua força de trabalho aqueles que pedem asilo. Dados da OCDE mostram que a taxa de desemprego na Alemanha entre os que não nasceram no país é 70% mais elevada do que a registada entre os que nasceram na Alemanha. E mesmo na Suécia, que é o melhor exemplo de integração, a taxa de desemprego entre os que não nasceram no país é duas vezes e meia mais elevada. Estes países têm um registo histórico de falhanço a integrar estrangeiros, em particular se vierem de países muçulmanos. Então, porque é que de repente iam mudar o seu comportamento perante esta crise dos refugiados? O que nos leva a pensar que poderiam integra 1,5 milhões de refugiados quando falharam na integração de 150 mil pessoas anteriormente? Em França por exemplo, há enormes subúrbio: deprimidos cheios de emigrantes de segunda e terceira geração desempregados que não se conseguiram integrar. Isto não vai acabar bem. A economia europeia não está preparada para absorver tantos imigrantes. A economia norte-americana pelo contrário, está. Sabe qual é a diferença na taxa de desemprego nos EUA entre nascidos e não nascidos no país? Zero. O problema europeu não vai ser resolvido pela imigração a menos que o mercado laboral na Europa funcione como nos Estado Unidos. É capaz de me dizer o nome de um político europeu que seja capaz de ir à televisão e dizer que temos de ter na Europa as regras laborais dos EUA? Enchem todos a boca com a Europa social. Bullshit. É a Europa do desemprego.
Mas o que defende. Tomar mais fácil contratar e despedir pessoas. É isso?
Sim. E tornar mais difícil estar-se desempregado. Fazer com que as pessoas aceitem empregos mesmo que eles não sejam os melhores. Mas essa não é a forma de funcionar da Europa.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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06/12/2015
SERVIÇO PÚBLICO: Uma entrevista desalinhada
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