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01/06/2024

Os motores avariados da convergência económica com a UE

Por falta de tempo para ler com a atenção que é devida, vou tomando nota do que me vai passando pelos olhos e parece mais interessante para lá voltar quando possível. Foi assim, uma vez mais, que fui às minhas notas quando deparei com o gráfico seguinte do Instituto+Liberdade (*) que mostra bem o facto conhecido, que já várias vezes sublinhei, dos sobreviventes do colapso do Império Soviético terem-se aproximado dos PIGS e em particular estarem próximos de ultrapassar o Portugal dos Pequeninos.

mais liberdade

E aí lembrei-me de um artigo (Crescimento e Convergência em Portugal: Experiência Histórica e Políticas a Nível Nacional e Metropolitano) muito interessante de Lúcio Vinhas de Souza (Fellow do Weatherhead Center for International Affairs na Harvard University e Visiting Professor na Brandeis University) e em especial dos dois gráficos seguintes que mostram a evolução de dois dos factores que melhor explicam a evolução medíocre do PIB per capita (um dos indicadores mais adequados para medir a prosperidade económica),

O gráfico da esquerda mostra como os motores de crescimento se alteraram a partir de 1974. Até então, o muito maior crescimento do PIB devia-se em primeiro lugar à melhoria da produtividade (Produtividade Total dos Factores - barras azuis) e em segundo lugar ao investimento (barras amarelas). Depois disso a produtividade pouco aumentou e até diminui nalguns anos e o investimento estagnou ou reduziu-se, de onde o crescimento do PIB foi principalmente assegurado pela quantidade de trabalho, ou seja pelo aumento de mão-de-obra. O Portugal dos Pequeninos passou assim de uma economia em vias de desenvolvimento para uma economia em vias de subdesenvolvimento. O gráfico da direita confirma a redução relativa do investimento e desde o resgate em 2011 a redução do investimento público, que se manteve depois da saída da troika com os governos socialistas do Dr. Costa.     

Como bónus, o artigo que cito tem também gráfico que ilustra a falsidade do mito muito apreciado entre nós de que do aumento do nível de educação decorre necessariamente o desenvolvimento.

(*) Um serviço público prestado por gente liberal que muito aprecio (o serviço, a gente nem tanto) e me poupa o imenso trabalho de andar a catar os dados brutos nas fontes e tratá-los, o que fiz esforçadamente em especial nos anos em que o jornalismo económico era ainda mais medíocre do que hoje.

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