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08/12/2022

CASE STUDY: Pobres, gordos e preguiçosos

Os ricos já foram (em média) gordos, os pobres eram (em média) magros e a quase inexistente classe média era (em média) entremeada. Mais tarde, os ricos foram (em média) entremeados, os pobres continuaram (em média) magros e a classe média foi (em média) gorda. Hoje, nos países ditos desenvolvidos, os ricos são (em média) magros, os pobres são cada vez mais gordos e a classe média é (em média) entremeada. 

Um pouco por todo lado, à medida em que os países se tornam menos pobres esse fenómeno é visível e muitas pesquisas o comprovam. Estas são, porém, tendências gerais porque as coisas podem ser, e são, mais complexas dependendo, além do rendimento, também do grupo étnico, do sexo e da faixa etária.  

Na China, um império com regiões ainda subdesenvolvidas, um estudo de 2015 (Association between socio-economic factors and the risk of overweight and obesity among Chinese adults: a retrospective cross-sectional study from the China Health and Nutrition Survey) concluiu que «o ensino superior e o rendimento familiar per capita estavam associados a um risco aumentado de sobrepeso e obesidade entre os homens chineses, enquanto as associações foram negativas para as mulheres». Ou seja, a China ainda está na primeira das três fases empíricas que distingui acima.  

No Reino Unido, um estudo deste ano («Obesity, Poverty and Public Policy» concluiu que «na Inglaterra, em 2018, quase um em cada três adultos era obeso e cerca de um em cada vinte e cinco eram obesos mórbidos. A taxa de obesidade em adultos dobrou desde 1993, (...). As taxas de obesidade são mais elevadas nas zonas mais desfavorecidas. As estatísticas mostram tendências semelhantes na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. (...) A obesidade em crianças também é alta, por exemplo, cerca de uma em cada cinco crianças de 10 a 11 anos na Inglaterra eram obesas em 2019.» 

Nos EUA (Estado de NY), um estudo de 2018 («Geographic Association Between Income Inequality and Obesity Among Adults in New York State») concluiu que «o aumento da desigualdade de rendimento e a menor percentagem de pobreza foram significativamente ligados a menores taxas de obesidade nos condados de NYS para os homens. A influência da desigualdade de rendimento diferiu de acordo com a localização geográfica»

Economist

Na Grã-Bretanha os dados obtidos pelo National Travel Survey mostram ainda que, além dos factores directamente relacionados com o nível de vida, também certos hábitos que têm influência na obesidade, como o caminhar a pé, são diferentes entre os mais pobres e os mais ricos e essa diferença (acelerada pela pandemia) inverteu-se e acentuou-se nos últimos anos.

Em 1976, Ettore Scola realizou uma comédia negra com o título «Feios, Porcos e Maus». Hoje, Scola poderia fazer um outro filme com o título «Pobres, gordos e preguiçosos».

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