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23/02/2021

Reflexões a propósito dos desejos da Sr.ª Ministra do Trabalho

Negócios

Receando que a "vida digna" que a Sr.ª Ministra deseja esteja acima das nossas posses, recordei um velho episódio que já contei e vou contar de novo. 

Numa mesa mesa redonda na RTP durante o PREC, um sindicalista da Intersindical fez umas contas de cabeça para demonstrar que o salário mínimo para um trabalhador fazer face ao que, segundo ele, seriam as necessidades básicas teria de ser não sei quantos contos. O movimento sindical iria bater-se por isso, garantiu. Se fosse hoje o sindicalista já teria adaptado o seu tosco sindicalês ao palrar actualmente dominante e vez de necessidades básicas teria dito vida digna.

Um dos participantes da mesa redonda Francisco Pereira de Moura, um católico da esquerda moderada próximo do MDP, professor do ISCEF (hoje ISEG), e na época ministro sem pasta do 1.º governo provisório, tentou pôr água naquela fervura evangélica. Em vão. As certezas inabaláveis do sindicalista resistiram incólumes às contas de cabeça de Pereira de Moura que lhe demonstrou que esse salário mínimo era superior ao rendimento médio pelo que nunca poderia ser o salário mínimo. De nada valeu ao sindicalista que continuou por longos minutos a negar a realidade.

Esclarecimento: 
Tendo sido questionada em comentário a consideração de Francisco Pereira de Moura (FPM) como «católico da esquerda moderada», julguei justificado explicá-la. Aqui fica disponível na caixa de comentários a quem possa interessar.

4 comentários:

Carlos Conde disse...

O prof Francisco Pereira de Moura foi um notável cripto-comunista.
Começar por o qualificar como católico para lhe desenhar o perfil tem tanto interesse como afirmar que sofria de hemorroidas.

Impertinente disse...

Sr. Carlos Conde, para classificar Pereira de Moura como «notável cripto-comunista» presumo que tenha informação privilegiada. Posso perguntar onde é que o conheceu? Obrigado

Carlos Conde disse...

Caríssimo Impertinente
Não conheci o prof Pereira de Moura, apenas fui contemporâneo e tenho assistido presencialmente ao desenrolar dos acontecimentos desde bastante antes do 25/4.
Agora pergunto-lhe eu: uma pessoa que fez parte de 2 governos de Vasco Gonçalves e pertenceu à APU estará próxima de que ideologia?

Na sua linha de pensamento, depois do que tenho lido escrito por si sobre Donald Trump, certamente é íntimo lá de casa.

Impertinente disse...

Sr. Carlos Conde,
Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Classifiquei Francisco Pereira de Moura (FPM) como «católico da esquerda moderada» pelo conhecimento pessoal e directo como seu aluno em 1964-5, pelo conhecimento indirecto nos anos seguintes no ISCEF (hoje ISEG), pelo conhecimento transmitido por alguns dos seus familiares e pelo conhecimento da sua intervenção cívica pela proximidade que mantive dos meios políticos desde essa altura até 1976. Em circunstância alguma me pareceu apropriado classificá-lo como comunista e muito menos como «cripto-comunista».
Apesar do MDP, a partir de certa altura e enquanto existiu, ter sido um instrumento do PCP, tinha muita gente que não era comunista, como FPM. Ter feito parte do I governo provisório liderado por Palma Carlos e com Mário Soares e Sá Carneiro, e do IV governo provisório que, apesar de liderado por Vasco Gonçalves, tinha como ministros Mário Soares, Magalhães Mota e outros que dificilmente se podiam considerar comunistas, também não parece justificar o epíteto de «cripto-comunista». Tal como o facto de FPM ter sido durante 9 anos (1957-65) procurador à Câmara Corporativa não justificaria que lhe chamasse cripto-fascista. Não fez parte do V governo e, até mesmo nesse governo, existiam pessoas, como um amigo próximo, a quem esse adjectivo não se lhe aplicava de todo.
Aproveito para esclarecer que nunca poderia ter sido íntimo de uma pessoa como o Sr. Trump o que não me impediu de fazer sobre ele juízos que começaram por ser razoavelmente benignos (como este: https://impertinencias.blogspot.com/2016/12/case-study-trumpologia-3-diz-me-quem.html), se foram tornando menos benignos, à medida que foi observando o seu desempenho, e acabarem irremediavelmente negativos. Nessa evolução fui considerando os factos provenientes de diversas fontes que suportaram a evolução do meu juízo. Alguns desses factos são citados na série Trumpologia (https://impertinencias.blogspot.com/search/label/trumpologia) e são uma parte insignificante de um conjunto imenso de provocações gratuitas, mentiras, meias mentiras, distorções e invenções das quais cerca de 30 mil estão inventariadas nas bases de dados do WP (https://www.washingtonpost.com/graphics/politics/trump-claims-database/), em relação à qual até lancei um repto aos devotos do Sr. Trump para denunciarem as alegadas falsidades inventariadas pelo WP.
Aproveito para dar conta da minha conclusão final sobre o Sr. Trump e o trumpismo: foi uma desgraça para o Partido Republicano e a direita americana e, lamento dizê-lo, para outras direitas que dele não mantiveram uma distância higiénica e se desacreditaram com uma colagem sem qualquer fundamento programático, político ou ideológico, apenas sustentada numa alegada e equívoca partilha de um inimigo comum.
Os meus cumprimentos