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14/02/2021

ACREDITE SE QUISER: O dilema de um animalista veganista está em vias de ter uma solução

A primeira vez que me dei conta de urbanitas com uma relação doentia com os animais em geral e os de estimação em particular foi há muito anos enquanto jogava ténis. Ouvi então várias vezes uma voz feminina por trás da sebe que rodeava o court falando incessantemente com um tal Óscar a quem dava ordens. A cena repetiu-se durante vários sábados e imaginei uma megera a falar com o pau mandado seu marido. Um dia, vencido pela curiosidade, espreitei por trás da sebe e descobri uma megera, sim, dando ordens não ao marido mas ao seu cão.

Escrevi urbanitas porque, ao contrário dos rústicos que vivem no campo e mantêm uma relação saudável com as bichezas, os urbanitas tendem a imaginar que os ovos são feitos numa fábrica e seriam incapazes de comer um frango ou um coelho se o tivessem visto vivo. Por isso, cada vez mais, os urbanitas são recrutados para religiões como o veganismo e muitos deles são proprietários de bichos que na vulgata animalista são chamados de animais de estimação, como se todos os animais não fossem de estimação, sobretudo aqueles que comemos.

Como em tudo o resto, estas ideias patéticas vêm em geral dos EUA que, algures entre o Maio de 68 e a queda do muro de Berlim, substituíram a França na produção de bens ideológicos para consumo da bem-pensância doméstica. Em geral e no particular desta religião animalista que tende a substituir os filhos pelos animais de estimação. Exagero? Talvez não, se nos lembrarmos que a indústria de comida para animais chama «pet parents» aos seus clientes de duas patas.

Chegados a este ponto é fácil imaginar que essa indústria tenha ultimamente procurado satisfazer a cada vez mais numerosa clientela veganista tentando produzir comida sintética, já que a comida tradicional para animais consistia basicamente em...  animais processados. 

Foi assim que a firma Because Animals de Filadélfia começou a produzir em laboratório carne gourmet de rato para gatos, cultivando células retiradas de um roedor. O que começou por suscitar críticas dos animalistas mais ortodoxos porque, diziam, ainda assim, pelo menos um rato tinha sido obrigado a ceder algumas células contra a sua vontade. Nem mesmo os sossegou a garantia dada pela Because Animals que o rato não tinha sofrido e vivia agora confortavelmente com um dos cientistas numa «plush mouse house».

Entretanto, outras firmas entraram na competição. Uma delas, a Wild Earth, está a tentar cultivar células substituindo ratos por peixes e frangos.  Outra, a Bond Pet Foods, tenta uma outra abordagem diferente inserindo genes para proteínas de frango em células de levedura de cerveja que se reproduzem mais rapidamente.

Entre nós, os animalistas, como o resto da tropa, são um bocado primitivos, pouco dados a estas sofisticações e ainda estão na fase olhos que não vêem, coração que não sente, continuando a alimentar os seus bichos com outros bichos sob a forma de caganitas parecidas com feijões ou ervilhas.

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