No seu último Destaque sobre o Rendimento e Condições de Vida 2020 estima que em 2019 se encontravam em risco de pobreza 16,2% da população ou um em cada 6 residentes.
O que é afinal a "taxa do risco de pobreza"? É a proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos anuais por adulto equivalente inferiores a 60% da mediana da distribuição desses rendimentos, mediana que nesse ano foi de 10.800 euros.
Imaginemos que nesse mesmo ano os rendimentos tivessem sido em média 20% superiores, significando que em média as pessoas teriam mais rendimentos. Suponhamos agora que os rendimentos das famílias mais pobres tivessem aumentado 10%, o que significaria que os pobres estavam menos pobres. Porém, suponhamos que os rendimentos dos mais ricos teriam aumentado 30%. Nestas condições a mediana da distribuição teria aumentado, suponhamos para 14.400 para euros. Continuemos a supor que com esta mediana a proporção de habitantes com rendimentos inferiores a esse valor teria aumentado de 16,2% para 20%.
Teríamos assim a situação paradoxal que apesar dos pobres terem ficado menos pobres o risco de pobreza teria aumentado. Porquê o paradoxo? Porque na verdade se trata de um indicador que mede a desigualdade e não a pobreza, nem mesmo mede o risco de pobreza que, se as palavras querem dizer alguma coisa, seria a probabilidade de ficar pobre. Aliás, se compararmos o "risco de pobreza" assim definido verificamos que países mais ricos podem ter um "risco de pobreza" mais elevado. Por exemplo, em 2018 Espanha, Itália e Luxemburgo tinham "risco de pobreza" mais elevado do que Portugal (Eurostat).
Afinal para que serve o indicador "risco de pobreza"? Para medir a desigualdade de uma forma tosca sem ter a maçada de dispor dos dados necessários para calcular o índice de Gini e, ao mesmo tempo, confundir e desenrolar a bandeira da igualdade, porque a única maneira de diminuir a "taxa do risco de pobreza" é reduzir a desigualdade na distribuição de rendimentos.
1 comentário:
Apocrifo de bossuet: +ou- "Deus ri daqueles que se lamentam das consequências de factos cujas causas apreciam"
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