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19/05/2020

Realismo económico não tem de ser situacionismo político

«Os economistas são ótimos a propor soluções fantásticas, pelo menos dentro de um quadro teórico, que têm um defeito: são politicamente inexequíveis» escreve num artigo, com o curioso título «Não seja como os economistas» no Expresso, o professor de economia Luís Aguiar-Conraria. Dá dois exemplos: o de Vítor Gaspar, que em 2012 defendeu que se baixasse o TSU das empresas e aumentasse o dos trabalhadores, com o resultado que se conhece, e o de um outro economista que propôs que o próximo governador do BdeP fosse estrangeiro (a exemplo de Mark Carney que depois de ter sido governador do Banco Central do Canadá foi governador do Banco de Inglaterra durante 8 anos).

De seguida, chega onde queria chegar e escreve: «Acusar o Governo de ter imposto um lockdown excessivo é absurdo. Pelo contrário, o mérito do Governo foi o de ter resistido a impor o confinamento mais agressivo que tantos exigiam. Dentro do exequível, o Governo foi o mais moderado que era possível. Não seja como os economistas, essa discussão é improdutiva

É certo que a realidade política mostrou que a ideia de Vítor Gaspar era irrealista e é certo que mesmo um conhecimento superficial da cultura política e social dominante no Portugal dos Pequeninos permite razoavelmente antecipar que a simples consideração da possibilidade de ter um governador estrangeiro do BdeP desencadearia uma reacção endogâmica das corporações e uma onda de indignação patrioteira que só encontraria paralelo na reacção ao ultimato inglês que acabou com a ilusão do mapa cor-de-rosa.

Contudo, atrelar a resposta do governo à pandemia a estes dois exemplos é uma argumentação falaciosa porque neste caso as variáveis em jogo são muito mais complexas e o resultado final não foi consequência de uma estratégia racional delineada. Em vez disso, a resposta do governo foi o resultado da evolução de um sistema caótico que envolveu os medos colectivos, a manipulação desses medos pelos mídia, por várias razões que agora não vêm ao caso, a falta de informação objectiva e independente, a falta de proactividade, a desorientação e a cobardia do governo que foi atrás desses medos colectivos e até a hipocondria do presidente da República. Dizer que esta era a única alternativa é confundir o realismo económico com o situacionismo político.

Existiam para o passado, e existem ainda para o futuro, estratégias realistas alternativas. Por várias razões de que vou citar apenas uma (quem quiser aprofundar pode navegar nos posts da série sobre o Covid-19): como ficou demonstrado, em nenhum momento os internados por Covid-19 atingiram 4% da capacidade hospital e os casos mais graves nunca atingiram os 300 casos ou seja menos de 50% da capacidade das UCI e por isso o sistema português de saúde nunca esteve perto da rotura e existiu, mesmo durante o pico, um excesso de confinamento de que resultou um impacto desnecessariamente elevado na economia, sem que daí tivesse resultado uma diminuição dos óbitos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Será que algum hospital de campanha chegou a ser usado? Nas imagens que passaram nas televisões as únicas pessoas que vi lá foram políticos.

Camisa disse...

Penso que o do Porto no Palácio de Cristal chegou a ter doentes mas deve ter sido o único

Anónimo disse...

o hífen conraria cada vez está mais vendido.
Há 25 anos aprendi com ele como se escreve na NET. Com links a garantir a informação.
Abraço