A propósito do Natal, João Vieira Pereira recordou no Expresso que a geringonça tão amiga dos pobres deu uma prenda aos «lesados do BES» (a quem JVP chama apropriadamente gananciosos, por quererem embolsar juros super generosos e estúpidos por não perceberem o risco de emprestar dinheiro ao DDT) que vale 50% ou 75% do valor investido (em média 200 mil euros), a pagar pelos tansos dos contribuintes, visto que o recuperável dos restos do BES não vale um chavo.
Antes, durante e depois do Natal, a mentira é uma constante na governação socialista (também noutras governações, a uma escala mais modesta). Ficou agora patente (veja-se a acta da SCML, citada no Expresso) que Costa mentiu no parlamento quando disse que foi a Misericórdia a manifestar interesse em participar no Montepio torrando o activo disponível para comprar uma participação de 10% por 200 milhões que vale menos de metade. Está agora claramente demonstrado ter sido uma imposição de Vieira da Silva que se assumiu como uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário a tirar aos ricos para dar aos bancos, tudo para evitar o resgate do Montepio que iria descompor as contas públicas penosamente seguras com cativações.
Por isso, aquilo que à primeira vista pode parecer excessivo - 14 membros do governo socialista que até agora tiveram de se demitir por trapalhadas diversas - na verdade é apenas uma pequena parte dos que se teriam demitidos fossem outros os costumes.
Ainda no género das mentiras na variedade trapalhadas continua a saga da transferência do Infarmed para o Porto. Começou por ser um anúncio de uma decisão já tomada (para passar manteiga no cacique tripeiro), transmutou-se poucos dias depois perante as reacções negativas num estudo por um pelotão de 27 peritos e na semana seguinte voltou a ser uma decisão já tomada, diferida no tempo para parecer ser uma coisa ponderada. É para mim um mistério como este ministro da Saúde, uma criatura que parecer ser sensata, ponderada e honesta, se transforma num sujeito inconfiável a contar meias verdades que acabam por ser mentiras.
Alguém se lembra do documento dos 12 sábios socialistas «Uma década para Portugal» ou do programa de governo PS? Nem os 12 sábios, nem Centeno, nem o governo porque o que se esta a passar tem pouco a ver o anunciado. A começar porque os drivers para o crescimento em vez do consumo e do investimento público estão a ser as exportações e o turismo. O consumo das famílias cresce abaixo do PIB (2,2% contra 2,6%) ou seja a página da austeridade só foi voltada pela metade, no que respeita ao consumo público (cresce 0,1%) a austeridade até aumentou e o investimento público desceu para níveis que fariam inveja a um governo neoliberal, como dizem os idiotas. Outra das grandes bandeiras socialistas, salvar o SNS, que segundo eles estava a ser destruído pelo neoliberalismo, era inverter a redução da despesa. Foi mais uma bandeira arreada porque a despesa do SNS continuará em 2018 ao mesmo nível.
Contudo, quando se entra em conta com o PIB potencial, que reflecte o produto estimado que resultaria de uma utilização sustentável dos recursos a longo prazo, o retrato é outro e a austeridade fica mais parecida com a prodigalidade. Segundo as projecções do Economic Outlook da OCDE, Portugal descerá o saldo primário estrutural de 4% para 2,9% entre 2016 e 2019 e será o 8.º entre 35 dos países membros com maior expansão orçamental medida pela variação do saldo primário face ao PIB potencial, a qual será superior a 1% comparada com 0,6% da Zona Euro. Tudo porque a descapitalização da economia portuguesa, em parte resultante do pesado endividamento público e privado, limita o crescimento natural da economia.
Já agora repare-se que como o emprego cresce 0,7% acima do PIB (3,1% contra 2,6%) e a produtividade que já estava muito abaixo da média UE28 voltou a cair - ou seja, dito de outro modo, aprofundam-se as causas da divergência real da economia portuguesa com as europeias.
Desta vez a geringonça provou do veneno que aplaudiu quando o Tribunal Constitucional chumbou medidas do governo PSD-CDS e teve de engolir sem um protesto a declaração de inconstitucionalidade da taxa de protecção civil de Lisboa inventada por Costa em 2015 quando por lá andou. Foi também uma oportunidade para medir as convicções e coerência dos berloquistas que desde a criação da taxa pediram a fiscalização da constitucionalidade e agora na votação do orçamento da câmara o seu representante na vereação Ricardo Robles absteve-se permitindo a sua aprovação.
Entre as prendas deste Natal contam-se várias greves que, como de costume, foram anunciados como grandes êxitos pela CGTP. A greve nas grandes superfícies teve uma «grande adesão» para os sindicatos e de «impacto residual» para a APED - nos três supermercados por onde passei nestes dias não se deu por nada. A greve dos CTT segundo os sindicatos atingiu 70% e esteve abaixo do padrão sindical (100%) mas o relativo insucesso foi compensado pelo diktat do apparatchik Narciso: «Há uma coisa que não podemos deixar de fazer nos CTT: mais greves. Isso é obrigatório». Aproveitando a época festiva, os sindicatos anunciaram a greve na Autoeuropa com um mês e meio de antecedência - esta «luta» pode muito bem vir a ser uma das grandes conquistas da CGTP e dos comunistas - o início da retirada gradual da VW, a menos que obedeçam ao diktat do apparatchik Arménio e comecem a produzir carros eléctricos.
Não é que seja um exclusivo do governo socialista, mas o Tribunal de Contas apontou «erros materialmente relevantes» nas contas de 2016. Também não é surpreendente «a acumulação de elevados níveis de dívida pública, bem como as responsabilidades contingentes associadas a empresas públicas, mas também a sociedades-veículo, como o BPN, e ao sector financeiro». Já mais surpreendente é o facto de quase metade da receita do perdão fiscal de 155 milhões, feito para ajeitar as contas de 2016, correr o risco de ter de ser devolvido às empresas.
Quanto aos sinais exteriores de prosperidade vamos bem. No 3.º trimestre venderam-se quase 39 mil habitações por quase 5 mil milhões, um recorde desde 2009, segundo os dados do INE. Outro sinal exterior de prosperidade é a redução até Outubro do saldo positivo das balanças corrente e de capital em 841 milhões devido ao crescimento das importações superar em 2,4% o crescimento das exportações.
É claro que também há notícias que parecem ao longe muito boas, sabiamente administradas pela gestão mediática, sector onde o talento socialista é mais abundante, e ao perto nem por isso. O défice do OE2017 deverá ficar abaixo de 1,3% do PIB, milagre conseguido à custa do aumento do IVA (7,1%), do aumento das contribuições sociais (5,3%) e da redução das prestações sociais (-3,7%), apesar do aumento das despesas de investimento (de 8,3%, mas partindo do valor em 2016 mais baixo dos últimos anos) e do consumo intermédio, que só subiu 1,3% à custa das cativações e com as consequências de redução da eficácia de muitos serviços públicos.
Outra boa notícia - esta permanece boa ao perto, mas o governo não fez nada por isso - é a redução do endividamento do sector privado não financeiro que em 2013 tinha uma dívida de 264% do PIB que tem vindo a ser reduzida gradualmente e em Setembro desceu para 404 milhões de euros (212% do PIB).
Por último uma muito exagerada boa notícia são os reembolsos antecipados ao FMI que permitirão reduzir ligeiramente o stock de dívida e sem redução da almofada de liquidez, bradam os megafones socialistas. Ora temos vindo a escrever nestas crónicas precisamente o contrário, quem estará pois a vender gato por lebre? Vale a pena aprofundar esta questão porque mostra como se faz a manipulação das tenras meninges da opinião pública com a colaboração amiga da opinião publicada.
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Como se vê, o truque passa por comparar uma projecção em Outubro por outra projecção em Dezembro, em vez de comparar o valor real da almofada no final de 2016 com o valor projectado para o final de 2017, nesta altura praticamente definitivo. E assim se anuncia que a redução da dívida se fez com aumento da almofada de liquidez.
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