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23/02/2017

CASE STUDY: Porque não gostam os "intelectuais" da nossa praça da internet e das redes sociais

«A Internet permitiu a democratização dos talentos e favoreceu uma estranha forma de cosmopolitismo doméstico, possibilitando viajar pelo mundo sem sair de casa (melhor dizendo, sem sair do quarto na casa dos pais... ), sem ter necessidade de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, sem ter de esperar pela crónica semanal de MEC para saber o que se fazia «lá fora». Sintomaticamente, há quem sustente que Sartre foi o último dos intelectuais: o surgimento da Internet, um fenómeno avassaladoramente democratizador, fez desaparecer hierarquias e circuitos privilegiados de acesso e difusão das ideias e, com isso, extinguiu a concepção do intelectual como referência de pensamento e de acção.

Em contrapartida, a quantidade de informação acabou por implicar maior esforço intelectual: desde então, não bastava proclamar «O que existe» ou «saiu um livro A ou um disco B» pois em poucos segundos se sabe e, de uma forma niveladoramente democrática, todos o sabem. Tornou-se necessário, cada vez mais, um contributo adicional, próprio, original para despertar o auditório e resgatá-lo do seu alegado provincianismo. Nos tempos da Internet e das redes sociais, uma publicação com o perfil d'O Independente, designadamente o seu famoso «Caderno 3» (dirigido por Esteves Cardoso), teria muita dificuldade de se distinguir na esfera pública.

Assim, a Internet foi extraordinariamente importante para a afirmação de uma nova geração, e existem hoje tantos blogues influentes de direita quanto de esquerda. A blogosfera e as redes sociais são muito mais plurais e equilibradas em termos de representatividade das diversas correntes de opinião do que, por exemplo, as televisões e, sobretudo, a imprensa escrita.»

António Araújo, «Da direita à esquerda», Saída de emergência

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