«Quando redobraram as notícias sobre multidões que fogem para a Grécia e para a Europa em geral, pensei tratar-se de uma falha - nas notícias ou no GPS das multidões. Afinal, estivemos meses a aprender que na Grécia, e na Europa em geral, se vivia uma tragédia humanitária nunca vista. Contra todas as expectativas, havia tragédias assaz maiores já ali ao lado. E os que lamentavam a devastadora austeridade que nos caiu em cima são os mesmos que agora exigem a partilha da nossa ofensiva abundância com os desafortunados do Médio Oriente e de onde calha. De súbito, a Europa tornou-se rica e repleta de empregos, alojamentos decentes, mesas fartas, privilégios sem fim. É o lado bom da crise dos refugiados.
O lado mau é que os corpos dos refugiados, vivos ou mortos, continuam a dar à costa. Vale que a reacção dos europeus se revela de fulgurante utilidade: correr para o Facebook a partilhar a fotografia do cadáver de uma criança estendido na praia e a criticar a passividade da Europa. Ou a indiferença dos governos. Ou a desumanidade de um destinatário genérico que naturalmente exclui o próprio - e heróico - indignado em causa. Parece um concurso para apurar qual é o cidadão mais piedoso.
Por falta de candidatos, não é de certeza um concurso para apurar qual o cidadão que abriria as portas de casa ao maior número de refugiados. Descontadas as "dezenas" de voluntários de que falam as notícias, não vi muitas almas sensíveis passarem da sensibilidade à prática e afirmarem-se disponíveis para albergar, por um período transitório, dois sírios ou quatro curdos no quarto das traseiras. Possivelmente os refugiados perturbariam o sossego do lar, essencial para se alinhavar no Facebook manifestos de extrema preocupação com o destino dos refugiados. Esta atitude traduz a típica bravura moral de quem subscreve petições pelos pobres e não se digna olhar o mendigo que o interpela na rua. Ou de quem chora os "cortes" no SNS e não visita o amigo doente. Ou de quem protesta as touradas e não abriga um cão vadio. O sentimentalismo sem compromisso preza a higiene. E é, desculpem lá, uma treta.»
«Sentimentalismo caro», ALBERTO GONÇALVES no DN
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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