«O liberalismo de Passos Coelho resumia-se a um programa político que nem sequer era dele. Era, e é, o dos nossos credores, gente interessada em garantir o pagamento das nossas dívidas, não na ideologia.
Essa suposta brisa liberal juntou-se no Governo a um partido que é uma espécie de anticiclone ideológico. O CDS, sim, é dele que estou a falar, já defendeu quase tudo e o seu contrário. Desde que seja o Estado a pagar. É um filho dileto da velha direita portuguesa saudosa de um Estado forte, que protege tudo e todos, incluindo naturalmente os interesses dos poderosos. Não se conhece, no CDS, nenhuma ideia clara nesta matéria. A única certeza é a irresistível atração pelo poder.
A concretização deste fenómeno meteorológico criou a sensação de que havia uma ideia para o país, baseada no programa da troika mas que ia além dele. Carentes de esperança os portugueses acreditaram que havia um rumo, um caminho difícil e duro a percorrer mas que tinha mesmo de ser percorrido. Durante um ano cerraram os dentes, aceitaram esforços, fizeram sacrifícios. E acreditaram que era agora, que as coisas iam mesmo mudar, que o país ia ser diferente, embora não soubessem muito bem em quê.
Um ano depois, esta ilusão foi engolida por um terramoto. O choque com a realidade mostrou que não havia verdadeiras opções ideológicas, mas apenas uma cartilha pragmática que misturava um programa imposto pelos credores e alguns modelos académicos que o professor António Borges ensina no primeiro ano dos seus cursos. E onde, como o próprio sublinhou, os nossos empresários não passariam se os frequentassem. São dois mundos opostos. Eles acham que o país não os compreende e o país, na realidade, não os compreende mesmo. Das intenções iniciais, as tais que eram vagamente liberais, resta o quê?»
«O fim da ilusões», Luís Marques no Expresso
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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