Já alguém ouviu falar que o aeroporto de Beja iria constituir uma «plataforma logística para a carga a receber e a expedir de/para a América e África, incluído o transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus»? Ou que seria um «entreposto para a carga recebida no porto de Sines, passível de ser transportada por meios aéreos, frescos agrícolas produzidos na zona de regadio do Alqueva e Andaluzia». Foi o que se escreveu no estudo «Plano Regional de Inovação do Alentejo» da autoria de Augusto Mateus, a luminária ministro do governo Guterres que inventou o plano com o seu nome para recuperar empresas irrecuperáveis. Com esse estudo se fundamentou mais um «investimento» de dezenas de milhões.
O que falhou, segundo a luminária? Faltou a ligação entre Sines e o aeroporto de Beja. Falhou, mas não vai falhar. Já foi considerada estratégica e incluída no pacote rodoviário. E o que vai ser transportado por essa rodovia estratégica de Sines para Beja? Serão os «frescos agrícolas produzidos na zona de regadio do Alqueva e Andaluzia»? Só o professor Mateus poderia imaginar tal coisa. Resta o carvão, gás natural, petróleo ou refinados (80% do movimento do porto).
Em conclusão, três anos depois de torrar umas dezenas de milhões no aeroporto de Beja vão ser gastas muitas mais dezenas para o «viabilizar». No final, o professor Mateus fará outro estudo para fundamentar um outro investimento para «viabilizar» o segundo. É um exemplo dos investimentos improdutivos que geram outros investimentos igualmente improdutivos e que absorvem recursos que ficarão indisponíveis para investimentos produtivos. O efeito líquido é uma redução do produto potencial – é o multiplicador negativo a funcionar.
Não é verdade que o governo precisa de sound bites como de pão para a boca? É. E como pode o governo produzir sound bites sem fazer estes investimentos? Reformulo a pergunta: como pode o governo produzir sound bites sem anunciar estes investimentos? Dificilmente. Mas o importante é a diferença entre fazer e anunciar.
Veja-se o exemplo da fábrica de produção de vacinas antigripais da Medinfar em Condeixa-a-Nova. «Anunciado em Janeiro de 2006 por três ministros e um secretário de Estado … nunca saiu do papel». Imagine-se se o mesmo tivesse acontecido com o aeroporto de Beja e a rodovia estratégica de Sines para Beja. É esta a via rápida para o progresso: anuncie-se mas não se faça.
[A propósito de um artigo do Público de ontem e do artigo de Frederico Carvalho, «Carga em que aeroportos» hoje publicado no OJE]
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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06/05/2009
O importante é a diferença entre fazer e anunciar sem nunca sair do papel
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