Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

24/04/2024

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (8)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

O último post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante versa sobre o Estado Novo ter sido uma espécie de idade das trevas, mito que é um favorito da esquerdalhada e funciona como contraponto do mito de que a Primeira República foi um regime salvífico que tratei no post anterior.

Em primeiro lugar o Estado Novo não foi uma ditadura particularmente repressiva e muito menos um Estado totalitário. Na verdade, suporta bem a comparação com a "democracia" republicana. 

Em segundo lugar, a década de 50 o salazarismo colocou o país num processo acelerado de desenvolvimento traduzido por um aumento do PIB per capita  de cerca de 37% da média da Europa Ocidental para mais de 55% no final da década 60, apesar do crescimento fortissimo da maioria dos países dessa zona na mesma época. 

O mito do crescimento se ter dado à custa da exploração das colónias não tem pés nem cabeça, desde logo porque as exportações para as colónias no período de crescimento mais forte representavam apenas cerca de 3% do PIB. O mito do Portugal agrícola cai quando se compara a população activa na agricultura que nos anos 20 era quase 60% com os menos de 25% no final do regime.
 
Do ponto de vista da educação, o analfabetismo que no início do século XX atingia três quartos da população no final dos anos sessenta era residual e não existia analfabetismo infantil.

Na saúde pública todos os índices mostram fortes melhorias. A percentagem de homens com deficiências de crescimento reduziu-se a metade; a mortalidade infantil reduziu-se de mais de 140 por mil para menos de 60 por mil no final do regime. As percentagens da população com acesso aos serviços de saúde pública foi aumentando gradualmente de 10% em 1954 para quase 80% em 1975, ainda antes do tão incensado SNS.

4 comentários:

Anónimo disse...

Por norma, as pessoas não gostam de factos. As pessoas gostam de narrativas que subscreva os seus preconceitos. Por isso, é que só há evolução quando os velhos morrem. Só quando a minha geração morrer (tenho 40 anos) é que se olhará para a história de Portugal do sec. XX com seriedade. Até lá é aguentar.

Afonso de Portugal disse...

Não me parece que seja essa a questão, anónimo. Não é tanto uma questão de gostarmos ou não de factos, é sobretudo uma questão de falta de liberdade. Nos últimos 50 anos, os portugueses têm sido amordaçados, impedidos de se expressar livremente, tal como acontecera nos 41 anos de Estado Novo precedentes.

Com efeito, qualquer pessoa que se atreva a sugerir sequer que a culpa pelo atraso de Portugal não se esgota no Estado Novo é imediatamente condenada em praça pública. Diabolizada, perseguida e muitas vezes até impedida de continuar a desempenhar as suas funções laborais. Não é por acaso que o Nuno Palma se encontra no estrangeiro. Aqui em Portugal, já teriam acabado com ele. É esta asfixia intelectual que, em grande medida, impede que Portugal progrida. Temos demasiadas vacas sagradas e muito poucas pessoas que se podem dar ao luxo de as pôr em causa.

Anónimo disse...

Seguindo as considerações anteriores acrescentaria que um problema mais a cosiderar terá sido o desenrolar do Ensino e Educação Escolar. Os mais velhos (tenho 84) recordarão que um aluno que chegasse ao 7º ano (agora 12º) era já considerado "meio Dr.". Hoje com o 12º saberão menos que os da antiga 4ª classe.
Rejubilei com o 25, mas confesso o meu desapontamento. A preocupação dos "revlucionários" começou de imediato na implantação nos "neurónios do pessoal" das classes culturalmente mais desfavorecidas, ideias "avançadas" e para isso ao longo destes 50 anos a Educação Pública, dirigida pela "esquerdalha" habitual, conduziu-a para o descalabro. A prova? Está nos resultados do PCP, os "comunistas e afins" mesmo com um ensino limitado conseguem ir digerindo a evolução e pouco a pouco, nestes 50 anos, de 20% estão hoje no limiar da irrelevância.

Afonso de Portugal disse...

«um problema mais a considerar terá sido o desenrolar do Ensino e Educação Escolar.»

Sem dúvida, caro ‘Enfim!’… aliás, o abandalhar da qualidade do “nosso” Ensino não é um acaso, faz parte da estratégia que tem sido seguida em praticamente todos países onde as ideias (neo)marxistas foram vingando.

Já referi este exemplo aqui neste blogue noutra ocasião, mas o chumbo da inclusão da Literacia Financeira nos programas escolares por parte da Esquerda é uma boa ilustração da forma como se tem impedido o povo português de ver mais além do paradigma marxista da redistribuição da riqueza. Coisas tão simples como saber poupar e investir, perceber a importância de acumular património, calcular uma taxa de juro ou actualizar uma renda e, sobretudo, compreender o fenómeno de as nossas poupanças tenderem a crescer tão mais rapidamente quanto mais já tivermos poupado (e daí ser importante começar a poupar quando ainda somos novos), ameaçam seriamente o monopólio ideológico da Esquerda.

Porquê? Porque as pessoas com dinheiro geralmente não aspiram ao confisco do dinheiro dos outros. Logo, também tendem a não sentir grande simpatia pelas ideias marxistas. Portanto, a Esquerda tem de fazer o oposto, ensinar a nossa juventude a sentir-se perdida e complexada e, em simultâneo, a achar que tem direito a ter tudo e mais alguma coisa sem se esforçar minimamente.