Recapitulando:
O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.
As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.
O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.
As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.
Uma dessas raras vozes dissonantes no Portugal dos Pequeninos é a do economista Avelino de Jesus que, uma vez mais, aponta os riscos dessa política no contexto da pandemia. Eis um excerto de A pandemia, a crise e a política monetária.
«A natureza explosiva desta situação é enorme. Na verdade, em cima das distorções provocadas pela política monetária laxista que seguiu após 2008 de forma continuada, caiu nova vaga de política monetária da mesma natureza. Estão em causa distorções no investimento e no consumo que, no caso português, estranhamente, muitos viram como virtudes que permitiram a saída pós-troika, dopando e empolando artificialmente os sectores intensivos em trabalho do comércio, da restauração, do alojamento e do turismo, à custa da continuada baixa da produtividade e dos salários e da certa continuação de taxas de crescimento rastejantes da economia portuguesa.
A política económica nacional não monetária pós-pandemia não só não contrariou a política monetária, mas ainda a agravou com medidas no mesmo sentido. Os apoios aos sectores de trabalho intensivos não são apenas de agora (recorde-se, apenas como exemplo, a redução do IVA da restauração). A resposta à pandemia não traz novidades: o sentido é o mesmo e errado, os apoios às empresas obrigam à manutenção do emprego, impedindo ajustamentos estruturais nos sectores e no tecido empresarial e prolongando os baixos níveis de produtividade e de salários. (...)
A política monetária está a impedir os ajustamentos sectoriais e empresariais imprescindíveis, aumentando a acumulação de tensões nos mercados e piorando os efeitos destrutivos da queda de reequilíbrio que, inevitavelmente, ocorrerá mais à frente.
Aqueles que viam na política monetária apenas uma simples redução da capacidade de manobra do banco central têm aqui a resposta. Pior, o banco central ficou manietado, e tem – em vez uma simples redução de margem de manobra – como única solução praticável a fuga em frente, acelerando para o abismo e gerando uma tragédia económica de proporções muito acima daquela que a mera pandemia nos está a fazer penar.»
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