«Em Marcelo, vemos o clássico sintoma populista de uma preocupação excessiva em criar um vínculo emocional e uma ligação direta às massas, que torne desnecessária a intermediação dos partidos políticos e de outras instituições. Foi o facto de ter construído essa relação com os portugueses, ao longo de 20 anos de homilias televisivas, que lhe permitiu ser eleito sem fazer campanha nos moldes tradicionais e quase sem precisar do apoio do seu partido. E é também isto que explica a ânsia, quase caricatural, de aparecer em todos os assuntos que lhe permitam fazer boa figura, mesmo que os bombeiros e a GNR possam dar conta da ocorrência. (...)
Com a sua forma de fazer política, Marcelo aproximou os cidadãos da Presidência, mas ao mesmo tempo lançou bem fundo as sementes do populismo em Portugal. As consequências deste facto só serão completamente entendidas dentro de algumas décadas, mas os efeitos já começam a fazer-se sentir, como se viu na recente entrevista de Cristina Ferreira à ”Visão”. A apresentadora admite que não se sente tecnicamente preparada para estar num Governo, mas, inspirando-se no estilo de Marcelo, admite candidatar-se a Presidente da República. Cristina Ferreira é uma profissional de mérito reconhecido, mas o que concluímos desta entrevista é que a atuação de Marcelo está a baixar a fasquia em termos de competências políticas (e técnicas) tidas como necessárias para assumir a mais alta magistratura da Nação.
Depois do atual inquilino de Belém, qualquer celebridade com o dom de seduzir as massas poderá legitimamente aspirar à Presidência. A porta que Marcelo abriu não voltará a fechar-se e ninguém sabe o que daí virá.»
A porta que Marcelo abriu, Filipe Alves no Jornal Económico
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