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05/08/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (199)

Outras avarias da geringonça e do país.

Et tu, Petrus

O novo presidente da CP, nomeado pelo ministro das Infraestruturas e líder da facção pedronunista do PS, era director e é accionista da Nomad Tech que tem a própria CP como o cliente mais importante (26% da facturação). Evidentemente, como o ministro já veio dizer, é tudo legal e, consequentemente, digo eu, esta notícia de 2/3 de página do Expresso, com foto do ministro Pedro Nunes Santos a cumprimentar o nomeado, é uma pulhice da outra facção do PS para entalar o líder do pedronunismo, mostrando que, afinal, ele também faz coisas censuráveis.

Se me permitem as facções e o semanário de reverência, isto é tudo um enorme equívoco porque, se era para desacreditar o líder do pedronunismo, o resultado é o contrário, ficando patente que o ministro é um verdadeiro socialista.

E se dúvidas ainda persistissem, a notícia de que o pai de Pedro Nuno Santos tinha e mantém negócios com o Estado vem de uma vez esclarecer tudo. Deixem a criatura em paz ainda que ele possa ser, como o acusam, ciumentas, as outras facções, uma infiltração do berloquismo no PS, o certo é que ele mostra ser, por direito, tão ou mesmo mais socialista do que os outros.

A família socialista tem imenso jeito para o negócio

E, por falar em paz, Paz Ferreira, o esposo da ministra da Justiça, é um fornecedor habitual de serviços jurídicos do Estado e das autarquias (socialistas). Como lembrei aqui, na sua qualidade de especialista em Finanças Públicas facturou quase 600 mil euros a organismos públicos durante o governo a que pertence a esposa. É escusado dizer que ele não vê qualquer problema ético, mesmo quando actua como advogado para contestar o Tribunal de Contas.

Como não vêem qualquer problema ético os doze familiares socialistas envolvidos no caso das golas inflamáveis. Aliás, segundo um qualquer parecer, as golas nem seriam inflamáveis, apesar do secretário de Estado o ter admitido o ano passado. O mesmo secretário de Estado cujo filho fez negócios de dois milhões com entidades públicas e cujo adjunto indicou as empresas para fabricar as golas, o que não tem nada de especial porque muitos outros filhos ou sobrinhos ou maridos ou etc. também o fizeram. Segundo o apuramento do Jornal de Notícias, desde que tomou posse este governo as famílias realizaram 3,7 milhões de euros de contratos. O que é isso comparado com as dezenas de milhões que o animal feroz embolsou (alegadamente)?

Quem já estaria preocupada por falta de pergaminhos socialistas é a ministra da Cultura. Felizmente para ela, veio a saber-se que quase toda a sua família e ela própria participavam em empresas com negócios com o Estado. Ufa, que alívio.

E qual é o problema disto tudo? Nenhum. A começar porque defendendo todos os socialistas a expansão do Estado, no final, quando o Estado (socialista) absorver o que resta da sociedade civil, só será possível fazer contratos com o Estado (socialista). Quando muito, poderá dizer-se que estas famílias (socialistas) são precursoras ou, para usar o inglês técnico do Senhor Engenheiro Sócrates, early adopters.

Bem andou o Chefe do Governo que, sabiamente, enviou um pedido de parecer à PGR sobre a interpretação da legislação de incompatibilidades que ele próprio há 20 anos apresentara no parlamento como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. É claro que haverá sempre detractores a dizerem que o governo faz de conta que nada sabe e até fazem listas com esses casos.

A provar que isto nada tem de desviante, nem é um privilégio das famílias dos governantes, veja-se que 85% dos contratos da Protecção Civil feitos sem concurso e, que se saiba, não foram adjudicados em especial às famílias dos governantes mas às famílias em geral.

Ficaria incompleto este tópico das famílias se não relevasse que quarta-feira passada deixou a vereação da câmara de Lisboa, o arquitecto Manuel Salgado, primo do outro Salgado, também conhecido como Dono Disto Tudo. O Manuel, à sua dimensão. também foi durante 12 anos o dono da câmara de Lisboa, como se pode confirmar por este artigo do Jornal Económico que evoca vários casos, incluindo as Torre de Picoas e o Hospital da Luz em que os dois primos se reencontraram, um pelo lado da câmara e outro pelo lado do GES. Para quem queira conhecer mais pormenores, pode ler a série de posts CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa.

Cuidando da freguesia eleitoral

Revelador do desvelo com que o Dr. Costa trata a sua freguesia foi o anúncio que em Outubro, mês das eleições, os funcionários públicos poderão antecipar a reforma sem o corte de 14,5% a partir dos 60 anos ou com 40 anos de trabalho.

Boa nova

A semana foi muito focada nos assuntos familiares pelo que a boa nova ficou limitada a reposições: a ala pediátrica do São João "estará a funcionar em 2021", o que já havia sido anunciado meia dúzia de vezes, e as prisões do futuro serão como hotéis. Quanto à ala pediátrica, estranho que ninguém mencione a iniciativa mecenática do Joãozinho, sabotada pelo governo. Quanto às prisões do futuro, suspeito que seja uma iniciativa egoística inspirada pelas preocupações da família socialista.

O cobrador do fraque do Estado Sucial

Segundo as estimativas de economistas amigos do Institute of Public Policy do ISEG este ano será novamente batido o recorde da carga fiscal e será provavelmente registado um superavit, à custa de quê? Acertaram! À custa do investimento público muito abaixo do orçamentado. A propósito, recordo que está a ser mais uma vez aplicada a fórmula Ronaldo das Finanças que consiste em anunciar um orçamento de 150 de que resulta um aumento de 50% no orçamento executado do ano anterior e, no ano seguinte, comparar o orçamento executado do ano, por exemplo 110 e não 150 como orçamentado, com o orçamento executado do ano anterior de onde resultou um aumento de 10%.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Como na anedota em que o sujeito cai do 30.º andar e quando passa pelo 10.º grita «até agora, tudo bem», o turismo continua a crescer (abaixo das previsões) e petróleo continua a subir o que terá um impacto negativo sobre o crescimento previsto.

As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu

«Dívida pública dá trambolhão para 246,9 mil milhões em junho», rejubilou a imprensa amiga ao dar a notícia do pagamento de 8,1 mil milhões. Há apenas um pequeno quid: o pagamento fez-se às custas dos depósitos em bancos pelo que a dívida líquida não só não desceu como até subiu 100 milhões de euros em Junho.

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