Não por acaso, o paper de Sofia A. Perez e Manos Matsaganis foi citado (com algum detalhe e extensão) nos mídia portugueses unicamente pelo Observador. Até agora nenhum jornalista de causas se deu sequer ao trabalho de referir um estudo que contraria as teses tão trombeteadas até à ascensão de Costa ao governo às cavalitas de comunistas e bloquistas.
Estas conclusões vão no mesmo sentido das que apresentei neste post de há três anos que agora republico.
Mitos (170) – A crise agravou as desigualdades, teve efeitos mais graves em Portugal e os pobres foram os mais afectados e entre eles os idosos
Estas ladainhas fazem parte do património cultural da esquerda portuguesa que, como se sabe, tal como as outras esquerdas se preocupa tanto com os pobres que faz tudo para os perpetuar – afinal são os seus clientes.
Geralmente a realidade é inimiga da esquerda em geral e do socialismo nas suas diferentes configurações em particular. Também neste domínio, ou talvez sobretudo neste domínio, a realidade, tal como medida pela OCDE no estudo «Rising inequality: youth and poor fall further behind», Insights from the OECD Income Distribution Database, June 2014, com base em dados do período 2007-2011 (já ouço o coro dos fiéis a dizerem: «ah, isso foi até 2011...» - ver o último mito), não parece nada de acordo com as ladainhas.
Mito: a crise agravou as desigualdades. Realidade: em Portugal as desigualdades aumentaram apenas moderadamente e em relação aos rendimentos disponíveis (isto é, rendimentos depois de impostos e subsídios sociais) as desigualdade diminuíram.
Mito: a crise teve efeitos mais graves em Portugal. Realidade: os rendimentos disponíveis das famílias tiveram quedas maiores ou mesmo muito maiores na Grécia, Islândia, Espanha e México.
Mito: os pobres foram os mais afectados. Realidade: em Portugal os mais afectados foram os ricos.
Mito: os idosos foram ainda mais afectados. Realidade: em Portugal os idosos tiveram ganhos nos rendimentos disponíveis.
Mito suplementar: ah, isso foi no período 2007-2001. Realidade: a «austeridade neoliberal» foi menos penosa do que a «austeridade socialista» do Dr. Soares.
De facto, como se escreve no relatório 2013 do BdP «A Economia Portuguesa», «por detrás do véu da ilusão monetária escondem-se efeitos reais que não são imediatamente reconhecidos pelos agentes económicos. A título de exemplo, os gráficos 4.9 e 4.10 mostram que os salários reais por trabalhador caíram relativamente menos no atual programa de ajustamento, apesar de, em termos nominais, os salários terem aumentado de forma muito expressiva nos anteriores acordos com o FMI.»
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