Já me têm perguntado se não seria preferível mudar o título desta crónica, já no seu 107.º episódio, dada a longevidade alcançada pela geringonça. Que não, tenho dito, e trago hoje em meu socorro Gonçalo Pistacchini Moita da UCP que num artigo de opinião muito a propósito intitulado «Ensaio de palestra popular sobre a estratégia e a tática marxistas» (o subtítulo que originalmente tinha o conhecido panfleto de Lenine «A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo») escreveu:
«Socialistas, comunistas e esquerdistas, com efeito, têm como único programa (como agora voltará a ver-se no orçamento do Estado para 2018) a reversão daquilo que, enquanto primeiro-ministro, Passos Coelho fez ou terá feito. Em nada mais conseguirão pôr-se de acordo, pelo que a possibilidade da sua ação tem a duração limitada pela memória que os portugueses tenham das maldades que, segundo eles, Passos Coelho lhes fez.»
Afastado o autor das maldades, desaparecidas e reaparecidas armas e munições e 5 toneladas de peças de um tanque, ardidos centenas de milhar de hectares de floresta e mortas pelos incêndios mais de 110 pessoas e, sobretudo, humilhado o governo pelas vilezas do presidente dos Afectos e remoída a afronta pelo aparelho socialista, torna-se patente que o funcionamento até agora sem falhas da geringonça, graças ao talentoso Dr. Costa, pode ter uma garantia com a duração de qualquer outro zingarelho de pechisbeque vendido no mercado.
Alguns pequenos pormenores mostram aliás que a geringonça começa a sofrer os efeitos perversos do seu próprio sucesso, ou melhor do relativo sucesso do PS nas eleições legislativas que deixou os comunistas mal dispostos com a perda de um terço das suas câmaras. O resultado está a ser o fim ou pelo menos uma trégua na tão celebrada «paz social» com o recrudescimento das greves que culminou com o «grande sucesso» da greve da função pública que, segundo os organizadores, teve uma adesão de 80% que atingiu 90% na Saúde e Educação. Saude-se Ana Avoila que em nome da Frente Comum reconheceu «o desastre em que se encontram os serviços públicos. Na saúde, nos transportes, nas escolas, na segurança social». Só faltou explicar que esse desastre é consequência da prioridade dada à compra da clientela à custa do funcionamento dos serviços sufocados pelas cativações.
Entre as várias humilhações impostas pelo PR, o governo teve de aprovar à pressa, num sábado, mais uma reforma da floresta, escassos dois meses depois de o ministro da Agricultura ter anunciado «a maior revolução que a floresta conheceu desde os tempos de D. Dinis», revolução publicada, nem de propósito, num Diário da República verde.
A maior revolução desde D. Dinis |
Acresce que há especialistas que colocam as maiores dúvidas à bondade das medidas agora aprovada, como Henrique Pereira dos Santos que admite «nem sequer conseguiu entender o que foi proposto por António Costa no final do Conselho de Ministros». Talvez nem o próprio Costa entenda, com a sua vasta experiência no sector. Só se pode ter certeza que o governo irá atirar dinheiro para cima dos incêndios e que esse dinheiro não sairá dos bolsos da clientela eleitoral da geringonça.
Voltando à vaca fria do OE 2018, e sem entrar por agora pormenores que a coisa ainda vai ser muito cozinhada no forno da geringonça, permito-me citar as conclusões de alguns comentadores geralmente bem informados e esclarecidos: «este OE aumenta o peso do Estado na economia» (nada que surpreenda vindo de um governo cuja clientela eleitoral é o partido do Estado, como dizia o saudoso Medina Carreira); «o mais ideológico dos orçamentos cumpre os mínimos obrigatórios à luz de Bruxelas e das agências de rating»; «um orçamento à PS com cedências à esquerda»; «em síntese, uma “bonança” económica e fatores “extraordinários” como menos juros e mais dividendos do banco central estão a ser desperdiçados. Não servem para melhorar a posição das contas públicas, mas somente para “maquilhar” os resultados. Isto porque a manutenção do poder é mais importante que o futuro do país.»
Entre os vários truques que este orçamento usa, mantêm-se as cativações que como se pode ver no quadro abaixo são uma especialidade socialista.
Fonte: Análise à proposta de OE 2018 (UTAO) |
Como se fosse pouco, em cima do peso pantagruélico da dívida pública, temos o endividamento da economia, incluindo administrações públicas, empresas e famílias, que em Agosto subiu uma vez mais para 723,2 mil milhões de euros, isto é quase quatro vezes o PIB. Os deuses nos valham porque só com os humanos não vamos lá.
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