Finalmente, um dos componentes da geringonça disse com clareza que o governo está a fazer o contrário do que tinha dito que faria. Jerónimo de Sousa criticou asperamente «a política de obsessão pelo défice (...) como se fosse esse o grande problema nacional e para colocar na sombra os problemas centrais do país». Alguém deveria explicar ao camarada que, se não fosse assim, secariam os dinheiros de Frankfurt, feneceria a geringonça e os comunistas ficariam sem abono de família.
Segundo a chamada lei dos compromissos a execução orçamental das entidades públicas não pode conduzir à acumulação de pagamentos em atraso. Segundo a Direção Geral do Orçamento, no final de 2016 havia 90 entidades que não respeitaram a lei - não contando com o governo central, pois claro.
Quando se tratou de resgatar à pressa o Banif antes do fim do ano, Costa não hesitou em atirar o impacto financeiro do resgate para as contas de 2015 facturadas ao governo anterior. Em relação à capitalização da Caixa, agora que já percebeu que, ao contrário do que disse em Agosto do ano passado («não atinge défice nenhum»), o aumento de capital de 2,5 mil milhões da Caixa irá provavelmente aumentar o défice orçamentado, está a armar em técnico de contas e a defender uma espécie de "especialização dos exercícios": é preciso «saber a que anos vão ser imputados este esforço de capitalização», disse. No final, se as necessidades de capitalização fossem relacionadas com as imparidades resultantes dos empréstimos do regime, a maior parte ficaria, ironicamente, nos anos dos governos socialistas de José Sócrates, incluindo o primeiro em que Costa foi MAI durante dois anos.
Falando de Caixa, alguém pode explicar porque vai ter lugar no Luxemburgo a emissão de 500 milhões obrigações subordinadas? Pois tudo indica que por lá há menos perguntas, ou não fosse o Luxemburgo a offshore de estimação europeia. E, a propósito de Caixa e de offshore, palavras que a esquerdalhada nunca junta, alguém pode explicar porque tem o «nosso banco» uma sucursal nas Ilhas Caimão? E, se não for pedir muito, alguém pode explicar porque tem o «nosso banco» uma notação B-, seis níveis abaixo da dívida pública e três abaixo do próprio banco (BB-)?
Com as importações a aumentarem a um ritmo superior ao das exportações, dentro do padrão habitual da governação socialista, o défice da balança comercial em Janeiro aumentou 250 milhões de euros em relação ao mesmo mês de 2016.
Também dentro do padrão habitual da governação socialista, os aparelhos locais começam a facturar ao governo. Citando o aparelhês usado pelo Observador, o presidente do PS da Guarda mandou dizer ao ministro da Saúde (o «betinho», como lhe chamou Pedro Arroja) que «ou coloca boys do PS para a Unidade Local de Saúde da Guarda ou retiramos-lhe a confiança política».
Obedecendo ao mesmo padrão, os ajustes directos de obras públicas aumentaram de 26% em 2013-4 para 35% dos contratos em 2016. E, também mesma linha, o governo já garantiu que irá pagar as horas extraordinária a 100% a todos os funcionários da Saúde.
Sempre a governar à vista, o executivo bicéfalo Costa-Marcelo já anunciou que adiaria para o ano lectivo 2018-2019, depois das eleições autárquicas (sim, com eleições não se brinca), a revogação das provas nacionais do 4.º e 6.º anos e o início das provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade. Este adiamento é uma espécie de prova de aferição do que o governo acredita na bondade das suas próprias medidas.
Fonte: Bloomberg (ocorreu uma mudança de benchmark, mas em qualquer caso a tendência é como o algodão - não engana) |
Em suma, a geringonça só não desaba, levando com ela o país, enquanto não falhar uma das pernas do tripé: BCE a continuar a comprar dívida (muito por causa da Itália); DBRS - a única agência que não nos dá uma notação de lixo (esta perna está soldada à outra) e o afluxo do turismo (cortesia do Estado Islâmico).
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