Entre as múltiplas realizações da geringonça devemos creditar-lhe a descida de 8 posições, de 38.ª para a 46.ª, no ranking «Global Competitiveness Report 2016–2017» do World Economic Forum. Porquê? Impostos, instabilidade política e burocracia - neste último indicador a geringonça chutou Portugal para 109.º em 130 países.
Por tudo isto, quem se admira que o yield das obrigações do Tesouro a 10 anos tenha atingido a semana passada um máximo de 3,52%? Ou que a UBS considere que a dívida portuguesa «still not worth the risk». E a propósito, comparem-se os yields a 10 anos de Portugal com a Espanha que continua sem governo.
Portugal vs Espanha (OT 10 anos) |
Um exemplo referido pelo Expresso: «dos 1.031 milhões de obras lançados este ano, apenas 400 milhões foram assinados», o que entre outros efeitos reduz a possibilidade de aproveitar uma parte dos fundos europeus cuja disponibilidade depende da comparticipação portuguesa que não é feita.
E assim chegámos a uma constatação divertidíssima: enquanto a geringonça, que jurava que o investimento público era o alfa e o défice o ómega da sua governação, passou o défice a alfa e o investimento a ómega, a oposição faz o inverso.
Aliás, o pináculo da contradição, citando Helena Garrido, é que «a política orçamental de 2016 está a ser mais restritiva do que a de 2015 (...) se usarmos a medida mais simples de avaliar a restritividade de uma política orçamental, o saldo primário (diferença entre receitas e despesas sem os juros)». E esta heim? É a boa austeridade socialista, por definição oposta à má austeridade «neoliberal», como dizem os imbecis.
Lembram-se da «reposição das 35 horas» que não teria impacto na despesa? Nos últimos 12 meses o SNS contratou 3.861 médicos, enfermeiros e administrativos (fonte jornal SOL).
Quanto à economia real, com há uns anos se dizia, continua mal, obrigada. E continuará, quando se sabe que o crédito vencido em empresas não financeiras continua a aumentar (está em 16,7%) e, sobretudo, o mesmo acontece às empresas exportadoras (está em 7%). Ao mesmo tempo que a variação anual dos empréstimos às empresas não financeiras diminuiu uma vez mais. O resultado num sector privado descapitalizado é fácil de antecipar: não há crescimento da actividade económica.
Como se torna cada vez mais claro, a geringonça é um passivo para o PS, com excepção de Costa e da nomenclatura que o rodeia empoleirada nos lugares disponíveis. É um activo valioso, em primeiro lugar para o próprio Costa prolongando-lhe a vida política, mas sobretudo para os comunistas e os bloquistas que vão impondo a sua agenda, principalmente bloquistas, sem pagar por isso qualquer preço. Se correr bem, é mérito deles; se correr mal, a responsabilidade é do governo. Quando as coisas tiverem o desfecho provável de um novo resgate, uns e outros lavarão daí as mãos. Entretanto, vão facturando o seu apoio, como fez Jerónimo de Sousa avisando: «este Governo e a sua política irão tanto mais longe quanto mais atenderem às reivindicações, às aspirações dos trabalhadores e do povo», leia-se às condições do PCP.
A adicionar à realidade que vai negando, ao espartilho de Bruxelas e às exigência de comunistas e bloquistas vêem-se agora uns sinais de fumo de Belém, onde o presidente dos afectos começou a intercalar o equilibrismo em que é mestre com os avisos à navegação. O último foi o veto à informação ao fisco dos saldos superiores a 50 mil euros que o governo tinha metido à boleia da transposição de uma directiva comunitária. Por agora, nada de grave. O veto funciona até como desculpa de Costa aos seus parceiros da geringonça.
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