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27/01/2016

CASE STUDY: O(s) (des)multiplicador(es) de Centeno

Começam a conhecer-se os contributos de Mário Centeno para as finanças públicas do Novo Tempo.

O multiplicador

Segundo a formulação do Jornal de Negócios: «Por cada euro de estímulos, retoma devolve quatro.» É certo que ainda estamos longe do multiplicador dos doutores Pereira e Jorge Andraz que foi o suporte teórico das SCUT, cujo êxito se prolongará pelas próximas décadas: por cada milhão de euros que o governo investisse em infra-estruturas rodoviárias o efeito acumulado no PIB seria de 18 milhões de euros, a longo prazo. (*) Mas estamos a caminho e, se à época os distraídos ainda não sabiam como iria acabar, agora todos têm obrigação de saber.

O desmultiplicador

Se o multiplicador multiplica 1 euro de incentivos por 4, o desmultiplicador desmultiplica 1 euro de incentivos no OE 2016 em apenas alguns cêntimos (não revelados). É pelo efeito desmultiplicar que, segundo Centeno, este orçamento apesar dos incentivos representa «um significativo esforço de contenção da despesa pública, o maior dos últimos anos».

Reacções às inovações de Centeno

É claro que sempre haverá quem não esteja à altura de compreender as finanças públicas do Novo Tempo de Centeno. É o caso do Conselho de Finanças Públicas que no seu parecer considera que as previsões do POP têm «riscos relevantes (…) decorrentes de previsões que se revelem optimistas» e, pior do que tudo, alertar que «o crescimento assente na procura interna, designadamente no consumo privado, corresponde a uma tendência bem documentada no passado».

A Moody’s diz a mesma coisa por outras palavras: «estratégia económica focada no consumo privado e no aumento dos salários acima do crescimento da produtividade poderá resultar no regresso aos antigos desequilíbrios da economia Portuguesa». A Fitch considera os pressupostos irrealistas e ameaça descer a notação se o défice não for reduzido.

Este cepticismo não nos deve surpreender, Afinal o Conselho de Finanças Públicas está infiltrado de neoliberais e as agência de rating, bom... as agência de rating ... será preciso dizer mais alguma coisa? Lembremo-nos de como tudo corria bem há 5 anos antes de as agências de rating começarem a conspirar contra o governo socialista de então e do papel dos neoliberais que chumbaram o PEC4.

(*) Como os mais avisados certamente terão reparado, os doutores Pereira e Jorge Andraz  não se aperceberam que a multiplicação seria da dívida pública e não do PIB, mas isso foi um pormenor.

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