«Num país com uma real cultura de liberdade, os insultos via SMS que António Costa dirigiu ao jornalista João Vieira Pereira, director-adjunto do jornal Expresso, teriam merecido reprovação generalizada e embaraçado o líder socialista. Mas, como estamos em Portugal e como se trata de António Costa, foi apenas nota de rodapé durante um feriado. Imagine o que seria se o mesmo tivesse acontecido nos EUA, no Reino Unido ou em França. Ou, tão simplesmente, o que se diria caso o autor do SMS fosse Passos Coelho ou Miguel Relvas, em vez de António Costa. Quando a nossa disponibilidade para condenar ataques à liberdade de imprensa é selectiva, algo está mal. E é por isso que não é fácil desempatar e decidir o que é mais grave neste episódio: se o próprio SMS de António Costa ou se o facto de ninguém se ter realmente importado.
Não é segredo que, da esquerda à direita, os políticos sentem a tentação de dominar os meios de comunicação. Em ano eleitoral, prevê-se aliás o aguçar dessa ambição e, nesse sentido, o acto de António Costa não é inovador – a novidade está na (ausência de) reacção ao seu SMS. Recorde-se que o Governo de Santana Lopes criticou a TVI por causa do espaço televisivo de Marcelo e fez, em 2005, campanha eleitoral contra os jornalistas. Que Sócrates processou mais de uma dezena de jornalistas, intimidou por telefone mais uns quantos e foi acusado de orquestrar a tentativa de compra da TVI. Que o deputado socialista Ricardo Rodrigues roubou gravadores a jornalistas da revista Sábado em plena entrevista. Que o ministro Miguel Relvas, em 2012, ameaçou e pressionou uma jornalista e uma editora do jornal Público. Que, recentemente, os partidos do arco de governação tentaram impor um visto prévio na cobertura mediática das campanhas eleitorais. E que todos estes casos foram severa e justamente criticados nos jornais e na opinião pública enquanto atentados à liberdade de imprensa. Todos, à excepção de um: o SMS de António Costa.»
Alexandre Homem Cristo no Observador
É um excelente exemplo da doutrina Somoza praticada sem o menor dos escrúpulos pelo jornalismo de causas. Na variedade Serrano (de Estrela Serrano, antigo membro do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social), a doutrina permite escrever a propósito de Miguel Relvas «há uma lição que o Governo deve tirar ... não é (felizmente) possível “ameaçar” jornalistas» e a propósito de António Costa «a liberdade de imprensa existe para garantir a liberdade de expressão não apenas dos jornalistas mas também dos cidadãos», como aqui recordou João Miranda.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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04/05/2015
Pro memoria (232 ) - Não há nada como ter amigos nos jornais
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