Falando um destes dias a «50 jovens empresários e empreendedores», o professor Cavaco Silva exortou-os: «não pensem que é pelos baixos salários que se garante a competitividade da economia».
Não me recordo em que empresa ou empreendimento o professor aplicou a sua ciência, porque pensava eu que a competitividade das empresas se garante grosso modo com produtos ou serviços com a mesma qualidade e mais baratos do que os dos concorrentes ou, em alternativa, com produtos ou serviços do mesmo preço e melhor qualidade.
É claro que no mundo real isso não é tão simples, dependendo a competitividade também da gama de produtos e dos segmentos de mercado para esses produtos, e, no mundo da teoria como no mundo empresarial, os custos de produção, e portanto os preços, dependem da produtividade. É assim, por exemplo, que as exportações alemãs de máquinas para a indústria são competitivas, apesar dos seus salários serem 2 a 3 vezes superiores aos portugueses, e é por isso que as exportações portuguesas de confecções de gama baixa não são competitivas face às dos chineses, com salários que são uma fracção dos portugueses. As palavras-chave são, portanto, inovação, produto, qualidade, produtividade, cliente, mercado e não apenas preço e salário.
Por isso, o conselho do professor Cavaco é tão útil aos jovens empresários e empreendedores como dizer-lhes «não pensem que é pela elevada qualidade dos produtos que se garante a competitividade da economia» ou «não pensem que pelos altos salários não se garante a competitividade da economia».
O conselho pode mesmo confundir esses jovens porque historicamente a única estratégia de sucesso nas exportações portuguesas foi até agora precisamente a de baixos salários que garantiram a competitividade de produtos medíocres até uns 15 anos atrás. Daí que, considerando o falhanço da estratégia subsequente baseada no aumento dos salários sem contrapartida na produtividade, mal por mal, seria preferível dizer aos jovens «não pensem que é pelos altos salários que se garante a competitividade da economia».
Em alternativa a estes temas áridos, o professor Cavaco poderia ter dado aos «jovens empresários e empreendedores» o exemplo de Antonio Vivaldi, que inventou a expressão franco intraprenditore numa carta escrita em 1737, onde descreveu dessa maneira o seu trabalho, que consistia em ser, ao mesmo tempo, o compositore e o impresario das suas opere e das opere da concorrência.
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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27/02/2013
DIÁRIO DE BORDO: Belém School of Economics
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