Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/02/2006

CASE STUDY: fé limitada nos mercados

O governo espanhol, como todos os governos socialistas, professa uma fé limitada nos mercados. Tão minguada é essa fé que o governo espanhol a gasta toda fora de portas.

Para só citar os casos recentes mais mediáticos, os «corporate conquistadors» espanhóis tomaram ou estão a tentar tomar várias praças fortes inimigas, como por exemplo:
  • Cesky Telecom, operador incumbente checo, comprado pela Telefónica
  • O2, o segundo maior operador telemóvel britânico, comprado pela Telefónica
  • Abbey, um dos maiores bancos britânicos, comprado pelo Santander
  • Sovereign, uma instituição financeira americana, de que o Santander comprou 20%
  • Gecina, uma grande empresa imobiliária francesa, comprada pelo Metrovasa
  • BAA, o operador do aeroporto de Heathrow, a quem a Ferrovial propôs a compra.
Não há notícia que o governo espanhol tenha ficado preocupado com o funcionamento desses outros mercados.

Há notícia que o «governo espanhol aprovou medidas para tentar impedir a oferta de aquisição no valor de 29,1 mil milhões de euros lançada pela E.ON sobre a Endesa, uma oferta que poderá criar a maior «utility» do mundo, com mais de 50 milhões de clientes.» (JN)

Se o governo espanhol convencesse os governos dos outros países a não criar obstáculos para as empresas espanholas continuarem a opar empresas europeias, isso seria um jogada genial. Infelizmente para todos os europeus, a coisa não funciona assim e, mais do que mostrar a grande falta de vergonha do governo do Bambi, a jogada Endesa vai servir para alimentar a onda proteccionista da qual resultará um jogo de soma nula.

E a onda vem a caminho cavalgada pelo primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, não por acaso um grande admirador (e biógrafo) de Napoleão Bonaparte.

27/02/2006

BLOGARIDADES: faz hoje um ano

Faz hoje um ano, surgiu O Insurgente, um «Só se não puder» desde os primeiros vagidos. Continuem rapazes. Nunca se arrependam do bem que fazem.

SERVIÇO PÚBLICO: ascensão e queda

«Temos de perceber que vivemos num mundo perigoso e hostil, não só pelas questões islâmicas. O conforto e a comodidade conquistados no pós-guerra estão a acabar. Noutros locais há muita gente desesperada e com fome, mas têm coragem. No Ocidente não existe nem fome, nem fé, nem desespero, nem audácia. E os nossos ministros, que nada sabem de História, não têm noção de que a Humanidade já passou por momentos semelhantes, como na época de Constantinopla ou de Roma. Os impérios têm os seus momentos de expansão, de auge e de queda. O Ocidente está em decadência. Isso é evidente. Mas é bom que assim seja para nos estimular e permitir a renovação
Arturo Pérez-Reverte, jornalista e ex-repórter de guerra, numa entrevista a O Independente

26/02/2006

ARTIGO DEFUNTO: não foi preso por ter cão e foi medalhado por não o ter

Nas páginas 2 e 3 do caderno principal, sob o título «A marca de Sócrates», o Expresso põe em destaque as suas «marcas»:

  • Aumento da taxa de desemprego de 6,7% para 7,7%
  • Aumento do défice público de 3,0% para 6,0%
  • Aumento das taxas de juro de 2,1% para 2,2%
  • Redução do crescimento de 1,2% para 0,5%
  • Redução da inflação de 2,4% para 2,3%
O Impertinências acha que estas performances devem-se apenas um pouco mais ao governo do que a quantidade de precipitação no 4.º trimestre do ano passado. O Expresso costuma achar diferentemente, não percebendo que «a economia depende dos dez milhões de portugueses e não dos duzentos palhaços que vão à televisão falar de economia».

E costumando o Expresso achar diferentemente, custa a perceber que no caderno de Economia, o inefável manteigueiro doutor Nicolau Santos faça um panegírico do governo com um título que tresanda («UM GRANDE PRIMEIRO-MINISTRO»), debaixo duma foto do próprio que ocupa 1/4 de página. No curto texto o manteigueiro atinge uma densidade dificilmente igualável de lisonja que torna extensiva aos ministros António Costa, Freitas do Amaral, Mariano Gago e (até) Alberto Costa. Das realizações de tão emérito governo, o inefável cita concretamente apenas a introdução do ensino do inglês no 3.º e 4.º anos.

Esquece as mais importantes realizações do governo: o aumento dos impostos e o aumento dos efectivos da função pública. São estes os resultados da acção do governo e não o comportamento das variáveis macro-económicas, meia dúzia de meses depois da tomada de posse. O resto é estilo e gestão da boa imprensa.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: estranhas formas de vida

Secção Rilhafoles
Passa-se algo na Bloguilha que me escapa. Há um não sei quê nos posts, daqui e dali. É um desporto esquisito. Um chuta bolas para o ar, como o decálogo de seis, de nove ou de um. Outros não acertam na bola e vão às canelas do adversário, não uma, nem duas, várias vezes.

Três chateaubriands para o Abrupto, pelos balões, outros tantos para o Grande Loja, pelos chutos na relva, com mais um ignóbil pela entrada de carrinho nas canelas do Abrupto sem bola.

Continuem assim e são internados em Rilhafoles, diria a mãe do Impertinente se ainda por aqui andasse.

24/02/2006

GLOSSÁRIO IMPERTINENTE: Secção de Rilhafoles

Quando o Impertinente era infante e se excedia nas impertinências, a mãe ralhava-lhe, como era costume as mães ralharem aos filhos naquela remota época. Se as impertinências, uma vez ou outra, roçavam o temerário ou a absoluta falta de senso, a mãe culminava a longa sequência de admoestações com o dedo em riste e a apavorante ameaça: continua assim e interno-te em Rilhafoles!

Só bastante mais tarde é que o Impertinente veio a saber que Rilhafoles era esse - o antigo convento perto do Campo dos Mártires da Pátria, sede do Real Colégio Militar durante alguns anos e, a partir de meados do século XIX, manicómio que albergava doidos de todo o país, alguns deles com impulsão suicida avant la lettre.

Na Secção de Rilhafoles da Avaliação Contínua se trata das criaturas que a mãe do Impertinências poderia, por boas ou más razões, ameaçar punir as suas sandices com o dedo em riste: continua assim e interno-te em Rilhafoles!

22/02/2006

CASE STUDY: há falar e falar, há ir e ficar

Em 2005 a economia espanhola cresceu 3,4% e criou 548 mil novos postos de trabalho. (Jornal de Negócios). Dito de outra maneira, o ano passado a Espanha poderia ter empregado todos os nossos desempregados e ainda a 2/3 dos nossos «inactivos disponíveis» e subempregados (Diário de Notícias)

«Falando na Conferência do Diário Económico sobre Inovação e Competitividade nas Empresas, Augusto Mateus sublinhou que Portugal vai chegar ao fim do terceiro Quadro Comunitário de Apoio (QCA) pior do que estava no princípio, porque fez pior do que os seus parceiros europeus.
Para o antigo ministro, se esquecermos que a economia global está baseada no mercado, não vale a pena apostar na economia do conhecimento.
Augusto Mateus defendeu que Portugal precisa de se especializar na base daquilo que sabe fazer, encontrar novos modelos de negócio e a partir daí entrar em actividades que geram maior valor, sublinhando que o futuro está na capacidade de criar riqueza, seja na agricultura, na indústria ou nos serviços.
» (Diário Económico)

Falando sobre a fala do professor Augusto Mateus, e trocando por miúdos o pensamento algo galáctico do professor, o leitor senhor Ramon Catalan fez-nos o favor de comentar assim a notícia do DE:

«Estrategia a Corto / Medio Plazo para un Pais del Sur de Europa como Portugal:
1.-Tiene que desarrollar los recurso que no tienen riesgo de "deslocalización": Agricultura, Pescas,
Turismo, Recursos Humanos y los Derivados de estos.
2.-Proyectos de regadio como como Alqueva, tienen una prioridad máxima! Mas que un TGV, que nadie esta a la espera para viajar mejor.
3.-Pienso que el desarrollo de la Pesca y los derivados del mar pasan por "joint-Ventures" com entidades estranjeras para conseguir el "Know-How" y que este sea transferido de forma estable y permanente.
4.-Hay que incentivar y motivar mas a los empresarios portugueses para que asuman el desarrollo de instalaciones para el Turismo de "Alta Competitividad".
5.- Si estos 3 sectores, "no deslocalizables", funciona a un buen ritmo de competitividad internacional, Portugal tiene asegurado un 45% de su PIB (GDP) Potencial y alcanzaria la media europea en 7 años.
Un cordial saludo RC
»

Gracias. Saludo también para usted.

O Impertinente

Post scriptum:
Confirma-se que tive uma recidiva e continuo a consumir.

21/02/2006

DIÁRIO DE BORDO: qualquer coisa terá que mudar para que tudo fique na mesma

Podia estar a pensar no Portugal dos pequeninos. Mas estou a pensar no Luchino Visconti e no seu magnífico «Il gattopardo», que pode ainda ser (re)visto no Nimas. Os filmes magníficos são como os bons vinhos - só ganham com a idade e este aquece-me as tripas como há 43 anos.

A «terribile insularità d'animo» e o «cambiare per non cambiare» da Sicília do Risorgimento nos anos 60 do século XIX, vista pelos olhos dum Lampedusa um século depois, evocam-me os portugais do Portugal.

São precisos pelo menos 3 aristocratas para fazer um filme como este: Lampedusa, Visconti e Lancaster, que acabou por fazer um princípe de Salina melhor (acho eu) do que teria sido feito por Sir Laurence Olivier, como queria Visconti. Hoje já não se fazem (não se podem fazer) filmes assim.

20/02/2006

TRIVIALIDADES: só mais uma passa

Procurando umas pepitas sobre o risk mapping, encontro uma trivial referência a um estudo de Cohen & Lee de 1979, que estima as seguintes reduções da esperança de vida:

  • being 30% overweight ........... 3.5 years
  • over 20 cigarettes per day ..... 7 years
  • being unmarried................. 9.5 years
Segundo Cohen & Lee, posso viver até mais 21 anos do que um marmanjo solteiro, obeso, grande fumador. Ou mais 40 ou 50 do que um triste gay.

Segundo Cohen & Lee, posso perfeitamente dar mais uma passa e viver até aos noventas.

DIÁRIO DE BORDO: os rumores sobre a minha cura têm sido grandemente exagerados

Continuo a tentar. Está mais difícil do que deixar de fumar.

19/02/2006

DIÁRIO DE BORDO: addicted to blogging

Está a ser duro. Tenho recaídas. Comecei a frequentar as sessões dos Bloguenautas Anónimos, onde encontro algum conforto. Cada dia é um dia.

Carpe diem.

16/02/2006

DIÁRIO DE BORDO: o mundo é composto de mudança

Eu hoje acordei assim (copy, right? right). Com vontade de mudar.

Ou mudo de mulher (onde é que arranjava outra assim?), ou mudo de país (agora não tenho tempo), ou mudo de profissão (é tarde), ou mudo de clientes (é cedo), ou mudo de casa (agora não, que o mercado imobiliário está pela hora da morte), ou mudo de carro (é cedo).

Ou fecho o estabelecimento. Fica assim.

TRIVIALIDADES: OTAs - objectos de tecnologia alta - a mola de roupa (1)

Possivelmente é um dos objectos cujo upgrade deveria fazer parte, por direito próprio, do Plano Tecnológico.

Quantas horas perdidas a apanhar roupa do chão, quantos quilovátios e detergente gastos a lavá-la uma vez mais, quanto estresse a remontar aquelas traiçoeiras três peças? Já alguém avaliou os ganhos de performance com a substituição do plástico manhoso por kevlar e do arame baratucho por uma mola high-tech de titânio? E que dizer dum chip com RFDI capaz de assinalar o sutiã que atingiu o grau de humidade ideal para ser engomado?

Porquê importar aquelas merdosas e pedantes molas francesas (Élephant «Menagez-vous!»)?

15/02/2006

DIÁRIO DE BORDO: descobri o que é um metrossexual

Um metrossexual é um jeitoso que já está a besuntar-se com cremes no pescoço quando o Impertinências passa por ele no balneário em direcção à piscina e na volta, depois de 50 piscinas a contornar esforçadamente os nacionais-faixistas natatórios que por ali bóiam ao acaso, o querido está a untar com óleos a bundinha empinada, enquanto se contempla ao espelho com ar de princesa, como quem pergunta: meu deus porque me fizeste tão belo?

TRIVIALIDADES: dúvida dilacerante

Alguém pode explicar como é possível a doutora Fátima Felgueiras, de Felgueiras, ter estado a receber uma pensão mensal de 3.449 euros de reforma como professora na Escola Secundária de Felgueiras durante cerca de dez anos?

CASE STUDY: aritmética da cremação

O embaixador do Irão teve uma palavra de apreço pela redacção sobre as blasfémias dinamarquesas, executada no papel timbrado do MNE, da autoria do colega professor Freitas do Amaral. Ao mesmo tempo, evidenciando o seu domínio da tabuada, o senhor embaixador fez uma demonstração aritmética da falácia do Holocausto que, segundo os seus cálculos, teria precisado de 15 anos para incinerar 6 milhões de judeus e não apenas dos 4 ou 5 que, dizem, os aliados concederam aos nazis.

Algumas criaturas mal intencionadas (se eu fosse o embaixador requisitava uma fatwa contra esses sujos infiéis) puseram em causa a numeracia do diplomata iraniano, porque, segundo eles, as suas contas estariam furadas. Talvez sim, ou talvez não. Esquecem os detractores que toda a verdade é relativa e, na circunstância, toda a aritmética também o será. O embaixador fez as suas contas provavelmente seguindo a estimativa do tempo necessário para incinerar os judeus de Israel (que, não por acaso, igualam em número os alegadamente incinerados no Holocausto), baseada, naturalmente, na produtividade média de um operário iraniano dos fornos. Ora, um crente sujeito às exigências de culto do Islão terá, compreensivelmente, uma produtividade inferior à dos seus homólogos infiéis.

QED.
(ver aqui a estória citada pelo Abrupto)

14/02/2006

BREQUINGUE NIUZ: o governo é quem mais ordena

«Governo ordena às empresas que baixem retenção na fonte do IRS» (Público, Diário Económico).

(Porque não ordena o governo aos funcionários públicos que se demitam maciçamente e às empresas que exportem mais?)

BREIQUINGUE NIUZ: lataria esgotada em Belém

Correm rumores que o professor Cavaco já exprimiu ao doutor Sampaio as suas preocupações por este último ter deixado esgotar em Belém o estoque de medalhas. A última foi gasta ontem.

Mais grave do que esgotar a lataria, terá confidenciado o presidente em trânsito, é ter esgotado os candidatos fora da Caras, condenando o novo presidente a lutar contra a falta de espaço nos já atravancados peitos dos medalháveis.

BREIQUINGUE NIUZ: para que não haja dúvidas

«A administração da Portugal Telecom, que considerou insuficiente o preço oferecido na OPA da Sonae, já tem um intervalo provisório para aquilo que irá anunciar como "valor justo" da empresa: entre os 11 euros e os 12 euros por acção».(Jornal de Negócios)

Confirma-se, assim, contra todas as expectativas que um nó double-windsor cuidadosamente ataviado poderia criar nas nossas mentes, a franqueza do doutor Horta e Costa e restante administração da PT, admitindo os danos que a sua permanência à frente da PT tem causado ao valor que o mercado atribui à empresa.

SERVIÇO PÚBLICO: o multiculturalismo transporta-nos para o século IIX (*)

«If we give in to these 8th-century clerics, shortly we will be living in an 8th century ourselves, where we may say, hear, and do nothing that might offend a fundamentalist Muslim — and, to assuage our treachery to freedom and liberalism, we'll always be equipped with the new rationale of multiculturalism and cultural equivalence which so poorly cloaks our abject fear.»
(Victor Davis Hanson, via Causa liberal)
(*) Esclarecimento desnecessário (tornado necessário por um email dum detractor habitual)
O século IIX é diferente do século VIII. Chega-se ao século VIII avançando 3 séculos para a frente do século V. Fica-se ao século IIX recuando 2 séculos para trás do século X.