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10/09/2023

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (8) - A leveza insustentável do sistema público de pensões (V)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)


«Em agosto, o Eurostat publicou as últimas estatísticas europeias sobre a produtividade do fator trabalho relativas ao ano de 2022. Este indicador é particularmente relevante para um país que tem um problema de envelhecimento demográfico enorme e que não capitalizou, isto é, poupou coletivamente, para acautelar o futuro. Sempre assentou num sistema redistributivo das pensões de reforma em que os mais jovens sustentam, com os seus descontos, para pagar as pensões dos já aposentados.

Como, no futuro, o número de aposentados por cada ativo empregado vai aumentar muito significativamente, é óbvio que, se nada fizermos, a carga de impostos sobre esses jovens vai ter de aumentar só para alimentar as pensões de reforma. Sobre isso, na medida em que são os mais velhos que mais consomem em bens e serviços de saúde, é também fácil perceber que de duas uma: ou a fatura do SNS tenderá a aumentar cada vez mais para fazer face a esta procura crescente por parte dos aposentados, ou se diminui a quantidade e a qualidade do SNS.

Consequentemente, se nada fizermos, ou se reduz a qualidade de vida dos aposentados (e eu quero ver como é que o fazem quando eles forem a maioria de eleitores...) ou a fatura fiscal terá de continuar a subir e o país tenderá a ser cada vez menos atrativo fiscalmente. Com salários brutos mais baixos e taxas de imposto cada vez mais elevadas, o salário líquido será cada vez menor, enfraquecendo-se sucessivamente a capacidade de consumo e poupança.

Neste ambiente, para se poder manter ou aumentar a receita fiscal sem diminuir o rendimento das pessoas é forçoso aumentar a produtividade. Uma pessoa mais produtiva aumenta o rendimento e paga mais impostos, mesmo sem aumentar a taxa de imposto, isto é, o esforço fiscal que fazemos.

E o que é que se passa com a produtividade portuguesa? Em 2013, a nossa produtividade era 80% da produtividade média da União Europeia. Agora é 74,8%. Em 2013 éramos o 18º país da União Europeia. Agora somos o 23º. Piores do que nós só a Hungria, a Eslováquia, a Grécia e a Bulgária.

É certo que a nossa produtividade aumentou quase 21% neste período, mas não ao ritmo da dos outros, o que nos fez divergir da média. E quando eles são mais produtivos, colocam os seus produtos mais baratos no mercado e ainda ganham mais!

Pode mudar-se este trajeto sem necessidade de escrever cartas a Bruxelas a pedir soluções. Mas não é a embalar o povo, amuan­do ou a ameaçar investidores que vamos lá.»

A descer alegremente, João Duque no Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Vêm ai os robots. Todas as projeções demográficas têm de ter esta realidade em conta......