Recapitulando: o intervencionismo dos bancos centrais (Fed e BoE, copiados pelo BCE), adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012 criou oceanos de liquidez que impulsionaram os mercados de capitais e incentivaram o investimento em activos de risco, criando as condições para um processo inflacionário que só esperava um trigger que surgiu com a invasão da Ucrânia.
Eis que surge mais um céptico sobre as propriedades miraculosos do quantitative easing, revelado tardiamente. Trata-se de Mervyn King, ex-governador do Banco de Inglaterra de 2003 a 2013, que em entrevista ao Expresso disse
“Os bancos centrais não perceberam que estavam a imprimir muita moeda que não era necessária” e “assumiram — e todo o seu edifício intelectual assenta nisso — que qualquer aumento da inflação acima da meta é transitório”. O que, na sua opinião, “foi um erro terrível”.
Foi pena que tenha esperado tanto tempo, mas dá-me o pretexto para voltar a escrever o que escrevi há 9 anos, quando era mais difícil encontrar um céptico sobre as propriedades miraculosos do quantitative easing do que um militante socialista com integridade certificada, mas aqui vai de novo:
Não se espera que a bolha esteja prestes a rebentar, pode levar anos, mas estão criadas as condições para tão cedo a economia recomece a crescer, um novo surto de «exuberância irracional» e uma abundância de «dinheiro estúpido» conduza a coisas estúpidas.
É a consequência, como já aqui escrevi, da intervenção militante dos governos, resgatando indiscriminadamente bancos, anestesiando a percepção do risco com garantias elevadas de depósitos e injectando artificialmente liquidez com a impressora do Quantitative Easing, terapêuticas para debelar uma crise que criam as condições para gerar a próxima.
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