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15/01/2023

Pro memoria (427) - O que tem de ser tem muita força

Recapitulando, o intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

Ao longo de mais de oito anos alertámos para as consequências indesejadas do alívio quantitativo:
Bolha de crédito gerada pelo Quantitative Easing da Fed e por taxas de juro próximo de zero que incentivam os investidores a procurarem aumentar os yields em aplicações de risco mais alto e a recorrer a novos instrumentos de garantia como as «PIK toggle notes». Recordemos os instrumentos prodigiosos gerados nos crânios da banca de investimento como os CDS, CDO e toda a restante parafernália que alavancaram o crédito até à estratosfera antes de desabar.

Bolha que poderia e levou anos a rebentar, mas que, entretanto, criou as condições para um surto de «exuberância irracional» e uma abundância de «dinheiro estúpido» que conduz a coisas estúpidas.

A intervenção militante dos governos, resgatando indiscriminadamente bancos, anestesiando a percepção do risco com garantias elevadas de depósitos e injectando artificialmente liquidez com a impressora do Quantitative Easing, aplicou terapêuticas para debelar a crise que criaram as condições para gerar a próxima.
Em cima dessa bolha de crédito e a pretexto da pandemia, os governos montaram um sistema de subsídios que veio injectar mais dinheiro na economia sem contrapartida da produção de bens ou serviços. Estavam criadas as condições necessárias e quase suficientes para espoletar um processo inflacionário. Faltava a espoleta que as consequências da invasão da Ucrânia pelo exército putinesco proporcionou.
  
Menos de oito anos depois, aí está a inflação como não se via há décadas. Veio para ficar por algum tempo, o suficiente para obrigar os bancos centrais a fazerem o contrário do que fizeram depois da crise financeira de 2008.

Uma vez mais, desta vez também não foi diferente.

1 comentário:

Camisa disse...

A lei da oferta e da procura é tão real como a lei da gravidade, mas há muitos que teimam em considerá-la um mito, especialmente os socialistas