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12/04/2022

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A derrota da liberdade e os escondidos atrás do biombo da hipocrisia

«Uma vitória da Rússia, sob qualquer forma, será a derrota da Europa e da liberdade. Será uma ameaça permanente e insidiosa contra as democracias e contra vários países europeus. Será a renovação da ditadura como sistema tradicional de poder na Rússia. Será com certeza um recuo da globalização e um novo fôlego dos nacionalismos. Seria seguramente a reintrodução da força e da guerra como critério de organização da comunidade internacional. Colocaria indefinidamente todas as instituições internacionais de cooperação e diálogo (saúde, trabalho, educação, cultura, telecomunicações, comércio…) em situação de suspensão impotente. Consistiria no maior recuo dos direitos humanos e dos direitos dos cidadãos que se conhece desde há quase cem anos.

É possível e legítimo que haja, em qualquer parte do mundo, incluindo em Portugal, pessoas que simpatizam com a Rússia, com o seu presidente e o seu regime. É também provável que haja quem veja numa vitória russa uma derrota da democracia ocidental, da América, da Europa e do capitalismo. Bom seria que tais pessoas se exprimissem com liberdade, sem cinismo processual e sem a covardia das falácias jurídicas. Perante a evidência insofismável da agressão russa, dos bombardeamentos aéreos, da invasão por milhares de tanques e blindados russos e da conquista territorial, há quem dê ouvidos às alegações do agressor e sustente que os mortos são vítimas dos próprios ucranianos e que a destruição é o resultado das suas anti-aéreas. 

Diante de cidades arrasadas, de edifícios destruídos, de infra-estruturas desmanteladas e de serviços públicos aniquilados, há quem seja subitamente invadido por escrúpulos jurídicos e exija comissões independentes para analisar a situação no terreno, identificar as vítimas e fazer relatórios sobre as circunstâncias das mortes. Em face de uma guerra que já destruiu grande parte de um país e provocou a fuga de milhões de pessoas, há quem sugira que a culpa e a responsabilidade são dos Estados Unidos e da NATO que cercaram a Rússia. Diante do incómodo causado pela violência bruta e pela agressão cega, há quem tenha a desfaçatez de pedir pensamento, de propor o estudo das causas remotas, de proceder à contextualização, à análise e ao enquadramento, quando na verdade estão a chamar pensamento à mais covarde atitude que consiste em não dizer o que realmente pensam e se escondem atrás do biombo da hipocrisia. Para esta gente, os responsáveis pela destruição da Ucrânia são… os Ucranianos!»

Excerto de «Argumentos e falácias», António Barreto no Público

2 comentários:

JM disse...

Os ucranianos não são os responsáveis mas, também são, da mesma maneira que os portugueses também são os responsáveis pela pobreza do país ao votaram sistematicamente em corruptos e incompetentes.
Sem dúvida que os grandes responsáveis pelo que se passa na Ucrânia foram os liders do ocidente, votados pelo eleitorado ocidental, que andaram anos a compactuar com um conhecido criminoso comunista em prol de vantagens economicas de curto prazo, que simultaneamente adoptaram politicas que nos fizeram adversários que um Putin vê como fracos e inoperantes.
O Putin sempre foi assim só não viu quem não quiz, um comunista da nata da velha guarda, como esperar outra coisa?

Anónimo disse...

Como é público O Público não tem nível. Até pede uns carcanhois que não merece.
Mais valera dar a referência do Autor:
Jacarandá, Sábado, 9 de abril de 2022
https://o-jacaranda.blogspot.com/
Abraço