«No exame de acesso de Matemática A, a moda — ou seja, a nota que se repetiu mais vezes — foi 19. Em Física e Química A, do 11º ano, a moda foi 18. Olhando para as médias de acesso à Universidade, ficamos com a ideia de que o futuro do país está garantido. Os gestores portugueses serão, em breve, os melhores do mundo. Os economistas, idem. Temos uma medicina que não se compara a nada. Os juristas são tão extraordinários que a nossa Justiça rapidamente se tornará uma referência internacional. Cereja em cima do bolo, temos os melhores engenheiros aeroespaciais do mundo: em 10 anos, vamos a Marte e voltamos.
(Se tivermos em atenção que mais de metade dos professores universitários tem a avaliação máxima, de Excelente, somos obrigados a concluir que a academia portuguesa há de ser a melhor do mundo.)
Como, evidentemente, não somos todos uns génios, o que isto quer dizer é que os exames foram fáceis demais, não permitindo distinguir os bons alunos dos muito bons e dos excelentes. Isto tornou o acesso a alguns cursos numa autêntica lotaria. E numa tremenda injustiça para tantos jovens. Não consigo imaginar o que é estar na pele de um adolescente que desde o 10º ano só tira dezoitos, dezanoves e vintes, que nas provas de acesso não tem nenhuma nota abaixo de 18 e não consegue entrar no curso pretendido. Ou estar na pele de alguém que, ao longo de 3 anos, tirou 20 a tudo e que teve um azar no exame de Matemática, não conseguindo mais do que 16, e que por isso não entra no seu curso de sonho. Ao tornar o acesso ao superior numa lotaria, os exames foram um fracasso.»
Excerto de Mais um prego no caixão da escola pública, Luís Aguiar-Conraria no Expresso
A falta de exigência e de rigor e a cedência ao facilitismo está no ADN da esquerdalhada e reflecte-se nas políticas de educação que promovem, a pretexto de facilitar a vida aos mais pobres. Não é preciso ser um génio para perceber que o efeito é precisamente o contrário: o facilitismo agrava o handicap das origens sociais que dá vantagem aos jovens provenientes de famílias que dão importância ao ensino e estimulam a aprendizagem, comparativamente com os jovens de classes mais pobres que frequentemente não têm um ambiente familiar estimulante. Evidentemente que este resultado não tira o sono aos promotores do facilitismo por duas razões: (1) muitos deles inscrevem os seus rebentos em escolas privadas e (2) para quem vê o futuro dos jovens como funcionários de um Estado pantagruélico e omnipresente um diploma é suficiente e estar mal preparado não é um problema.
A longo prazo, esse facilitismo incentiva a optar pelo ensino privado as famílias que têm meios para isso, transformando gradualmente as escolas públicas em repositórios de jovens destinados a adultos falhados, sobretudo as escolas fora das zonas privilegiadas. O resultado final é o aumento das desigualdades, precisamente aquilo que se pretendia evitar.
1 comentário:
O importante é ter um papel e as right connections.
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