Depois de ter aumentado a despesas com salários em 530 milhões em 2016 e em 400 milhões em 2017, o governo prepara-se para a aumentar mais mil milhões de euros (valor bruto) entre 2018 e 2020 à pala do «descongelamento das carreiras» um eufemismo para esconder a promoção por antiguidade e sem mérito.
Ao mesmo tempo, escreve o Negócios, o «governo assume alívio no redução dos funcionários públicos», o que é uma maneira criativa de dizer que o governo não só não cumpriu o compromisso com Bruxelas de só contratar um por cada dois funcionários que saíssem como acabou a aumentar o número de utentes da vaca marsupial pública.
Moral da estória: manter a freguesia da geringonça satisfeita não é barato.
Tendo começado por dizer que não haveria aumentos na função pública em 2019, Centeno acabou por ajustar o seu discurso garantindo que nunca diz nunca e, por isso, nunca se sabe. Antes disso, Costa já tinha feito o ponto de situação dizendo, como de costume, depois logo se vê.
Por tudo isso, ninguém deveria ficar admirado quando a UTAU (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) conclui que não há medidas estruturais previstas no Programa de Estabilidade e que a redução do défice é totalmente à custa da redução dos juros (se esta se verificar...).
Mostrando, uma vez mais, uma governação estilo guterres, o governo tão depressa se desculpa com o governo anterior, dois anos e meio depois de ele ter saído da circulação, como anuncia o milagre que a «nova ala pediátrica do S. João avança em duas semanas» - a coisa é tão ridiculamente injustificada que até um representante da esquerda bem-pensante (num assumo de ousadia, Aguiar hífen Conraria escreveu que o governo não fornica nem sai de cima) reconheceu que a obra poderia já ter sido feita se não fosse o boicote da administração do hospital (devidamente suportada pelo ministério) à iniciativa filantrópica liderada por Pedro Arroja.
Como se fossem precisas demonstrações de que o Ronaldo das Finanças com o seu exercício hermenêutico do termo «carga fiscal» versus «esforço fiscal» só tentou fazer-nos ainda mais estúpidos, o Conselho das Finanças Públicas veio confirmar que a carga fiscal de 2017 foi a mais alta dos últimos 22 anos.
Jornal Económico |
Uma vez mais, nos dois primeiros meses do ano, o endividamento o sector não financeiro voltou a aumentar 3,1 e 2,1 mil milhões em Janeiro e Fevereiro, atingindo 721 mil milhões. Segundo o BdP, o aumento deveu-se exclusivamente ao aumento do endividamento do sector público.
Por fim, para que não restassem dúvidas privadas sobre as dívidas públicas, o FMI confirma que Portugal ostenta a terceira maior dívida pública do mundo.
O governo celebrou muito a revisão em alta para 2,4% do crescimento previsto pelo FMI para 2017. Esqueceu-se, porém, de várias coisas. Primeira, que, ainda assim, a economia portuguesa é a quinta com menor crescimento em 2018 na Zona Euro. Segunda, o FMI continua a prever 1,8% para 2019, abaixo da média de 2% da UE. Terceira, no período 2017-2023 o FMI prevê que Portugal seja o segundo país da EU 28 depois da Itália que menos cresce. Quarto, o FMI prevê também que Portugal é a nível mundial o 15.º país com menor crescimento nesse período.
Nem podia ser de outro modo porque para crescer é preciso uma de duas coisa ou ambas: o crescimento da população activa (que diminuiu) e/ou o crescimento da produtividade e, quanto a esta, como se pode ler neste nosso post, entre o ano anterior ao resgate e o último ano do governo PSD-CDS aumentou 1,9%. Porém, nos dois anos do consolado de Costa desceu 0,3% e em relação a 2010 Portugal foi o quarto país da EU28 em que a produtividade menos progrediu.
E, falando ainda de crescimento, segundo dados do Eurostat citados pelo Expresso, todas as regiões NUTS excepto os Açores, tinham em 2016 um PIB per capita mais baixo face à média da UE do que em 2000. Pelo caminho, foram torrados 44 mil milhões de euros dos contribuintes europeus. O investimento público que na era Sócrates despejou milhares de km de alcatrão pelo país, com o efeito multiplicador conhecido (da dívida, claro está), em 2017 o investimento não chegou a 50% de 2011, segundo o CFP, com o governo a papaguear um aumento de 25% (682 milhões) em 2017, omitindo que esse aumento foi em cima de uma redução de 1.300 milhões em 2016.
Diferentemente, quanto ao consumo não nos podemos queixar - ou, mais exactamente, não se podem queixar os países a quem se dirige a nossa procura. Consumo financiado por um onda de crédito que nos dois primeiros meses atingiu 1,1 mil milhões de novos créditos, face aos 960 milhões do período homólogo do ano passado, tendo o crédito automóvel aumentado 23% e o crédito ao consumo 15,2%.
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