Outras avarias da geringonça.
A que passou foi a semana Centeno, em que o Ronaldo das Finanças, ou o Vítor Gaspar socialista como lhe começam a chamar pela sua "obsessão" com o défice, ocupou o palco ajudando (malgré lui?) Costa a poupar-se e proporcionando a Catarina e Jerónimo um bode expiatório mais acessível e um saco mais barato da porrada destinada a Costa, e também ajudando o próprio Centeno a posicionar-se melhor para o olimpo da Comissão Europeia.
Como motivo adicional de notoriedade de Centeno e das suas cativações, neste caso partilhada com o Adalberto, tivemos o escândalo da ala pediátrica do hospital S. João (recorde-se a propósito o boicote à iniciativa da Associação Joãozinho promovida por Pedro Arroja) e ficámos a saber que segundo os últimos dados do Ministério da Saúde de 30-11-2017, «pelo menos 74 consultas espalhadas por todo o país apresentavam prazos médios acima de um ano, o que afectava cerca de cem mil doentes».
Os tempos de espera já não se limitam apenas à Saúde. Segundo o Expresso, os novos reformados precisam esperar 7 meses em média para receber a primeira pensão.
Outro episódio notável da semana foi a autorização pelo parlamento aos fedelhos de 16 anos para mudarem o sexo no registo civil, os mesmos fedelhos que terão de esperar pela conclusão da escolaridade obrigatória até aos 18 anos para poderem trabalhar. Muitos deles, por essa altura, com os corpinhos e os cérebros atulhados de hormonas aos saltos, não sabem o que querem ser hoje quanto mais o que serão para o ano. (*) Acrescente-se que a votação foi por bancada contando a totalidade dos votos de cada grupo parlamentar, estando ou não os deputados presentes. O que falta para classifica o parlamento português como um parlamento fantoche?
Entretanto, nas sombras, manobra-se para limar as arestas do Estatuto do Ministério Público que está em revisão legislativa. Leia-se este artigo de opinião de Joana Marques Vidal e perceba-se nas entrelinhas que em complemento do pré-anúncio da não renovação do seu mandato pode estar em marcha a transformação do MP num mascote pacífico do governo,
Quanto ao estado da relação poliamorosa de conveniência chamada geringonça, está mal mas, como dizia o outro, é mais o que os une do que o que os divide. Estão todos a fazer equilibrismo: o PS à espera que o façam antecipar as eleições para se ver livre de comunistas e berloquistas; o PCP a fazer contas de cabeça para compensar as cedências ao PS e o medo de ser visto como responsável pela avaria irreparável da geringonça com greves e declarações bombásticas; o BE rezando a todos os seus santos (Marx, Engels, Lenine, Trotsky, Mao, para só citar alguns) para terem pelo menos mais um do que os deputados que faltarem ao PS para ter a maioria. Enquanto esperam, uns fazem ultimatos a Centeno, de que se esquecem no dia seguinte, e os outros convocam greves (médicos a 8, 9 e 10 de Maio) ou manifs (polícias e militares na primeira quinzena de Maio). Até a UGT não quis ficar atrás e convoca uma greve das escolas para 4 de Maio.
Sabendo perfeitamente que esta «consolidação fiscal» não foi baseada em reformas, mas em engenharia orçamental e no maná celestial das exportações e do turismo que suportou o aumento da carga fiscal e tornou possível cobrir o aumento da despesa estrutural, como os salários da freguesia eleitoral, com o aumento conjuntural da receita resultante do crescimento da economia, Centeno irritando comunistas e bloquistas leu no parlamento um discurso escrito onde rejeita «o regresso ao passado em que o país enfrentou o risco de sanções, em que os investidores nos rotulavam de lixo, em que bancos ruíam e com eles a confiança no sistema financeiro. Não temos memória curta. Eu não seguirei esse caminho.» O descaramento de Centeno e do chefe Costa só são possíveis com um eleitorado infantilizado e uma oposição reduzida aos serviços mínimos.
Enquanto Centeno faz estes discursos para Bruxelas ouvir, Costa faz o seu jogo habitual de cintura, contando com a compreensão da opinião publicada e a distracção da opinião pública, e quanto ao aumento dos funcionários públicos em 2019 dá uma no cravo da patriótica consolidação fiscal e outra na ferradura da freguesia.
Falando de dívida, o algodão que não engana, a dívida às farmacêuticas vai em 1.2 mil milhões à espera do dinheiro que o Ronaldo há-de um dia enviar para o Adalberto. Mas estes milhões que o Estado deve são apenas uns amendoins quando comparados com os 388 milhões - quase dois PIB - da dívida total pública e privada (incluindo bancos) ao exterior.
Mas estamos a crescer, não estamos? Pois estamos, mas «é poucochinho» disse Daniel Bessa lembrando que 19 dos 28 países cresceram mais e chamando a atenção para as consequências do emprego crescer mais do que o PIB de onde a produtividade estar a descer, de onde... De onde várias coisas, incluindo a produção industrial portuguesa caiu 0,8% entre Janeiro e Fevereiro mais do que a UE 28, o custo do trabalho subiu 3% em 2017 acima dos 2,3% da UE28 e a capacidade de financiamento da economia diminuiu 0,2 pontos percentuais em relação a 2016 o que numa economia descapitalizada não é mau, é péssimo.
Se a tudo isso, acrescentarmos que o aumento das exportações abrandou em Fevereiro para 6,2% (-3,8% do que em Janeiro) ficando abaixo do aumento das importações (8,5%) o que aumentou o défice da balança comercial para quase mil milhões, é caso para irmos ponto das barbas de molho porque ao primeiro arrefecimento da conjuntura internacional a nau catrineta da economia portuguesa adorna.
(*) Escrito antes de ler este artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso que explica muito bem e muito claramente a ignorância, irresponsabilidade e estupidez crassa dos deputados autorizarem «um adolescente de 16 anos, cujo córtex pré-frontal ainda não está completamente desenvolvido, decidir de uma forma livre, madura e responsável mudar de género»
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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16/04/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (131)
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