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09/06/2017

DIÁRIO DE BORDO: Somos todos Cannes? E se Oscar Wilde não tivesse razão?

Um dos filmes mais aplaudidos, com o prémio da melhor actriz, no festival de Cannes, uma reunião da cinefilia decadente bem-pensante, foi «Aus dem nichts» (Fora de nada).

O tema central - um atentado terrorista - não podia ser mais actual num festival de cinema em França, palco recente de vários atentados do terrorismo islâmico, e num filme produzido e localizado na Alemanha onde o mesmo terrorismo constitui uma séria ameaça. Se estavam à espera de um ataque bombista por terroristas islâmicos a pacíficos cristãos, esqueçam. Deveriam esperar um ataque bombista por terroristas nazis a pacíficos muçulmanos. Passo a palavra ao crítico do Público in loco:

«Uma alemã (Diane Kruger) perde o marido, de origem turca, e o filho num ataque bombista perpetrado por um grupo de extrema-direita. Mas a decisão do julgamento não lhe permite fechar o trabalho de luto e ela decide fazer justiça pelas próprias mãos. O cineasta Fatih Akim, alemão de origem turca, não esconde que a sua empatia está com a personagem de Katja, porque ela é o corpo daquilo que pode estar adormecido em cada um de nós – o justiceiro – e, segundo o próprio realizador, “deve continuar adormecido”».

E assim se vê que Oscar Wilde, de quem dizem ter dito «a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida», pode muito bem ter-se enganado.

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