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05/07/2016

DIÁRIO DE BORDO: England Made Her

«Em 1962, os meus pais deixaram-me passar seis meses em Londres. Pela primeira vez na vida, senti-me livre. Ninguém me vigiava, lia o que me apetecia e tinha tempo para reflectir sobre o futuro. Mesmo sem que disso tivesse consciência, quando regressei a Lisboa estava outra. Em 1971, obtive uma bolsa de estudo da Fundação Gulbenkian para frequentar a Universidade de Oxford. É difícil explicar quanto, durante os anos que ali vivi, amadureci intelectual e emocionalmente. Tão forte era a atracção por esta cidade que durante trinta anos, já doutorada, ali passava três meses. Tudo o que, desde então, pensei, disse e escrevi tem a sua impressão digital.

Nenhum outro país me transmitiu, como este, a nobreza de alguém que, no meio de uma crise internacional, se levanta para afirmar: "We shall never surrender." As ideias liberais não me foram apenas transmitidas em conferências, mas em conversas informais, em noticiários televisivos, em peças de teatro, em revistas e em jornais. Vinda de um país, como Portugal, onde a escolástica era tida como uma forma superior de pensamento e a lamechice literária exaltada, a Inglaterra deu-me a possibilidade de ter contacto com obras superiores. 

É difícil explicar quanto devo à cultura inglesa. Nunca esquecerei a excentricidade do warden do meu College, os livros consultados na Radcliffe Camera, as deambulações por Hay-on-Wye e os fins de tarde passados em Port Meadow. 

É por temer o que o futuro nos possa trazer que recordei o poema de W. H. Auden, "In Memory of W. B. Yeats", intitulado 'September 1, 1939'. Aqui fica um extracto, no original, visto não me atrever a traduzi- lo: " ln the nightmare of the dark/ Ali the dogs of Europe bark,/ And the living nations wait,/ Each sequestered in its bate;"

Excerto de «England Made Me», Maria Filomena Mónica no Expresso

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