A nossa dívida externa líquida ultrapassa os 250% do PIB, é praticamente igual à da Grécia e a maior dos últimos 120 anos, com a preciosa ajuda de praticamente todos os governos democráticos, com destaque para os 2 governos Sócrates. Chegámos aqui percorrendo um caminho de décadas com défices do comércio externo quase nunca inferiores a 5% do PIB e por vezes ultrapassando os 10%. Durante todos estes anos, poucas foram as almas, e já nem falo dos 200 palhaços que têm lugar cativo na televisão, que apontaram o dedo ao desfecho inelutável do resultado de colecionar défices.
Por devoção à verdade, diga-se que apesar de a «pesada herança fascista» nos ter deixado umas contas públicas de boa saúde e umas reservas de ouro e divisas que nos permitiram pagar as importações durante a baderna do PREC, tal deveu-se essencialmente às remessas dos milhões de emigrantes portugueses. De facto, a nossa balança de bens e serviços tem sido desde 1943 sistematicamente deficitária.
Por isso, é um facto extraordinário, pela primeira vez em quase 70 anos, a balança de bens e serviços poder vir ser superavitária ainda este ano, segundo as previsões do BdeP. Para roubar as palavras de Helena Garrido, diria que tal facto «retrata a enorme capacidade de adaptação dos portugueses que, em menos de dois anos, passaram de esbanjadores consumidores para aforradores exportadores. Revelador de um Estado que estaria em muito melhor estado se outras e melhores fossem as lideranças.» Reconhecendo que portugueses piegas e elites mentecaptas têm mostrado escassa capacidade de adaptação, Vilfredo Pareto poderia concluir que os 20% que mostraram essa capacidade de adaptação são responsáveis por 80% do resultado.
Banco de Portugal, Boletim Económico de Verão |
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