Por muito assombroso que seja o seu conteúdo (que parece evidenciar que, contra tudo o que seria de esperar dum membro da Obra, o seu signatário não fala com o seu filho Filipe faz anos), mais assombrosas são as vicissitudes que a carta estritamente confidencial em mão sofreu no curto percurso que vai desde o gabinete do engenheiro Jardim Gonçalves até ao do seu destinatário.
Ainda pensei acrescentar um novo termo ao Glossário das Impertinências, mas talvez não se justifique se a carta estritamente confidencial em mão do engenheiro Jardim Gonçalves for afinal uma carta aberta, como a defini em tempos aqui, a propósito duma missiva do incontornável professor doutor Freitas do Amaral dirigida ao presidente da República através dos jornais:
É uma contradição nos termos. Uma carta é fechada. Uma carta que é aberta, não é fechada (=>La Palice). É, pois, uma carta que não é uma carta. É uma circular que tem como destinatários reais toda a gente menos o destinatário formal. É também uma grande falta de vergonha de quem a escreve, ao divulgar os seus termos por terceiros, muitas vezes antes do destinatário a conhecer, sem cuidar de saber se autorizaria. É, em suma, um insulto à inteligência de todos os seus destinatários.
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