É difícil imaginar mais manteiguismo do que tem regularmente demonstrado o Expresso pelo excelso professor Freitas do Amaral. A última demonstração de ontem é talvez a mais notória: uma mancha (na circunstância melhor chamada de nódoa) que ocupa 1/3 da primeira página e 2/3 da segunda, com duas fotos. Uma das fotos deve ter sido pensada para ficar na hagiografia do excelso: o professor assistindo «ao anúncio da sua demissão pelo porta-voz, António Carneiro Jacinto». O porta-voz, a quem deve ser creditada a boa imprensa de que dispôs o excelso, fica também imortalizado na hagiografia.
A estória contada, que inclui o relatório do neurologista para lhe dar mais credibilidade, é inconfiável, precisamente pelo visível esforço para a tornar confiável. A verdade costuma ser simples, não precisa de tanta manteiga. É por isso que é mais fácil acreditar na versão do Correio de Manhã: «Freitas do Amaral demitiu-se ontem do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros por motivos de saúde. Esta foi a versão oficial, mas, segundo apurou o CM, a demissão deveu-se a um acumular de situações, sendo decisivas discussões com o embaixador norte-americano e conflitos com um assessor diplomático de José Sócrates.» Acumular de tensões a que não deve ser estranho o desapontamento do excelso ao ver-se preterido, quando o senhor engenheiro aproveitou magistralmente o erro de cálculo do doutor Soares a chegar-se à frente para a presidência da República e, duma só cajadada, ceifou os dois coelhos - bem haja senhor engenheiro.
Declaração de interesse:
O Impertinências não gosta do senhor professor, do seu ar de luminária cansada, do seu enfatuado aspecto professoral, do seu papel de guru tardio do esquerdismo senil. Mas estes juízos sobre o excelso não impedem o Impertinências de constatar adicionalmente que o senhor professor nunca foi um aliado confiável, nem mesmo para o engenheiro Sócrates.
O desvelo do Impertinências pelo senhor professor está amplamente demonstrado em inúmeros posts que lhe foram dedicados - o último foi sobre a sua excelsa fadiga.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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