[continuação de (1)]
Outro aspecto argutamente observado por José Gil é a falta de frontalidade dos portugueses, a sua «recusa do enfrentamento».
Não é para chatear, mas isso não é novidade nenhuma. Os estudos de Hofstede, citados até à náusea pelo Impertinências (a última das vezes aqui), evidenciam a extrema feminilidade da cultura portuguesa e um dos traços dessa dimensão feminina é a obsessão do consenso, mesmo à custa de concessões suspeitas à clareza.
O que é novidade é que José Gil cita uma diplomata francesa que chamou aos portugueses «os chineses do Ocidente», partilhando a mesma sinuosidade discursiva. Se estes têm uma cultura claramente mais masculina, como explicar esse suposta convergência na «recusa do enfrentamento»?
Talvez a razão se possa encontrar na dimensão distância ao poder, em que os chineses nos batem, como, uma vez mais, os estudos de Hoffsted mostram, e que os leva, ainda mais do que a nós, a dar enorme importância ao status quo, a construir hierarquias pesadas e rígidas, e, consequentemente, ao receio obsessivo de perder a face, porque o que está em causa são as barreiras que nos separam do poder, do superior, do chefe, do patrão.
Essas barreiras, no nosso caso reforçadas pelo desvelo feminino de evitar conflito, acumulam tensões fortíssimas que periodicamente são «descarregadas» com um bota-abaixo menor (golpe de estado) ou maior (revolução). O que, a ser exacto, poderá explicar a nossa aversão ao reformismo que envolve negociação, gradualismo, em suma envolve o «enfrentamento» pacífico.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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