[continuação de (1)]
Outro aspecto argutamente observado por José Gil é a falta de frontalidade dos portugueses, a sua «recusa do enfrentamento».
Não é para chatear, mas isso não é novidade nenhuma. Os estudos de Hofstede, citados até à náusea pelo Impertinências (a última das vezes aqui), evidenciam a extrema feminilidade da cultura portuguesa e um dos traços dessa dimensão feminina é a obsessão do consenso, mesmo à custa de concessões suspeitas à clareza.
O que é novidade é que José Gil cita uma diplomata francesa que chamou aos portugueses «os chineses do Ocidente», partilhando a mesma sinuosidade discursiva. Se estes têm uma cultura claramente mais masculina, como explicar esse suposta convergência na «recusa do enfrentamento»?
Talvez a razão se possa encontrar na dimensão distância ao poder, em que os chineses nos batem, como, uma vez mais, os estudos de Hoffsted mostram, e que os leva, ainda mais do que a nós, a dar enorme importância ao status quo, a construir hierarquias pesadas e rígidas, e, consequentemente, ao receio obsessivo de perder a face, porque o que está em causa são as barreiras que nos separam do poder, do superior, do chefe, do patrão.
Essas barreiras, no nosso caso reforçadas pelo desvelo feminino de evitar conflito, acumulam tensões fortíssimas que periodicamente são «descarregadas» com um bota-abaixo menor (golpe de estado) ou maior (revolução). O que, a ser exacto, poderá explicar a nossa aversão ao reformismo que envolve negociação, gradualismo, em suma envolve o «enfrentamento» pacífico.
Sem comentários:
Enviar um comentário