Por trás de tanta fartura de concordância espreita um quid pro quo. Donde veio esta insólita convergência de analistas, de comentadores, de luminárias e de cidadãos que já engoliram todos os sapos que havia para engolir nos últimos 30 anos (por falta de tempo, não vou recuar até ao fássismo)?
Comecemos pelo que fez o governo do doutor Santana Lopes em 4 meses de vida. O balanço é magro, pouca coisa, mas alguma, foi feita:
- Aprovou a lei das rendas, que vinha a ser empurrada com a barriga pelo menos deste o tempo do saudoso engenheiro Guterres.
- Alterou o regime das SCUTS, uma dádiva do governo do saudoso engenheiro Guterres (30 anos das concessões de 900 km custariam, e custarão com o doutor Sócrates, 8% do PIB)
- Alterou timidamente o sigilo bancário (o suficiente para invocar demónios sem rosto)
- Limitou os absurdos privilégios dos bancos no IRC (idem, com rosto)
- Limitou os absurdos privilégios no IRS dos direitos de autor
- Aboliu os benefícios fiscais do PPR/E e das CPH (chateando a sua base eleitoral) para compensar a redução de IRS nos escalões mais baixos (para felicidade da base eleitoral da esquerda)
- Preparou um orçamento que ainda ninguém explicou em que é pior do que os antecessores, e parece ser tão bom aos olhos do PR que os sound bites (ainda não desmentidos) que escorrem para os jornais dão indicações de que o PR desejava a aprovação que teve lugar esta tarde.
(Cenas dos próximos capítulos: as barracadas e os tiros nos pés)
ESCLARECIMENTO:
Uma percentagem significativa dos posts do Impertinências tem referências críticas ao doutor Santana Lopes, desde há mais de um ano, ainda nem ele sonhava vir a ser primeiro-ministro - tinha então ambições mais modestas, como ser o próximo PR. Então porquê este súbito desvelo impertinente pelo homem? O homem é ele e a circunstância, teria dito Ortega y Gasset se não estivesse a olhar para o umbigo. Ocupei-me do homem. Agora é a vez da circunstância.
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